Prosa Poética

As tardes com María

AS TARDES COM MARIA

 Só quero seguir teus passos

 quando vejo que caminhas pela praia de Copacabana.

 Gosto de ver as pegadas que deixas sobre a areia

 e ver como o sol desenha a sombra de teu corpo sobre a areia.

 Parece que as ondas do mar também querem beijar teus pés.

 Então, para não perder-te, eu grito teu nome ao vento:

 - Maria!  Maria!

E você me vê a correr pela praia de Copacabana,

 seguindo tuas pegadas que as ondas do mar já esconde.

 E para não perder-me, gritas meu nome ao vento:

  - João!  João!

UMA RAZÃO

Um toque de seus dedos no tambor detona todos os sons e inicia a nova
harmonia.
Um passo seu é o levante de novos homens e sua marcha.
Sua cabeça se vira: o novo amor! Sua cabeça se volta, — o novo amor!
“Mude nossa sorte, livre-se das pestes, a começar pelo tempo”, cantam essas
crianças. “Não importa onde, eleve a substância de nossas fortunas e desejos”,
lhe imploram.
O sempre chegando, indo a todo canto.

Retalhos de escrita

1
Quando a ilusão vence o desassossego e o ânimo supera qualquer dor, num evadir da realidade inconexa, surgem fragmentos de resistência.
Atrevimento tempestuoso ao enfrentar do espelho que teima em sugerir a limpidez do mundo, esplêndida de cor.

2
Ladrilho de afectos
Emaranhados
Numa rua com sentido
Único.
Se entrechocam em vozes
Despegadas nas insignificâncias.
Dívidas humildes de vida
Em neutralização da paciência.

Espumado amor de navegação a bom porto.

Espumado amor de navegação a bom porto.
Inquietude cristalina com sonhos aninhados nas ondas e transparências instaladas em nuas flutuações.
Vinculação sem dúvidas, entrecortada com as convulsões da incredulidade.
Consentir de vida, pré-natal, privado de raciocínio.
Indizível sentimento, ora bordado de ideal, ora convertido em fogo de artifício.
Suadouro da paixão e da desorientação onde emoções, sem calendário, que se entrechocam na fervência visceral.

Poltrona do consolo. Edifício privilegiado, no seio de periferias dispersas como mosaicos.

É HORA DE ESCANCARAR TODA A EMOÇÃO

TODOS LHE DISSERAM QUE ERA UMA DECISÃO INSENSATA PORQUE NÃO HAVIA DÚVIDA ALGUMA DE QUE AQUELA ATITUDE ESTAVA LIGADA AO PASSADO.
QUE DISPARATE! É HORA DE ESCANCARAR TODA A EMOÇÃO!
FOGUETES ENCANTAM-LHE OS OLHOS COMO VIAGENS RESPLANDECENTES DE MARAVILHOSO. TINHA ESPERADO A VIDA INTEIRA.
POR FIM CHEGARA DE UM PERCURSO TODO SALPICADO DE ESPINHOS. UMA ENORME ESTRADA PARECIA ESTENDER-SE, NUM DESCANSO VIVAZ, VIDA FORA.
A CABEÇA SUBIA ATÉ À LUA E MAREAVA-SE ENTRE ESTRELAS, NUMA PRATA TÃO COMOVEDORA COMO ACESA.

Trepida nas ideias o prodígio da sobrevivência suspensa num suspiro.

Trepida nas ideias o ruído da vida inundada de raios de luz, deixando esfumar sonhos e prazeres submissos, em densidades luzentes com luas vermelhas.
Mistérios feitos de dualidades, e não, incompatibilidades.
Quietudes aparentes balanceadas pelo entusiasmo voraz e a indiferença, numa falência de objectivos, mestra de si mesma.
Abdicar ou desafiar?
Um fluido aturdimento de emoção, arde em permutas da mente, no calar da mágoa.
Deslumbre boémio e incorrigível, que vagabundeia em círculos, num deleite mórbido.

A menina

A menina

 

 A minha menina gosta de olhar as estrelas

 e ela gosta de seguir o vento,

 ela imagina  que é uma borboleta

 que voa,

 que voa,

 logo me diz: venha, cavalga no unicórnio

 e eu digo:

 hoje quero ser uma Águia

que voa,

 que voa.

 Minha menina me olha e sorri

 e me pergunta: Papai, me leva para voar com você?

E eu pego suas mãos e juntos seguimos sonhando......

 uma borboleta,

 un unicórnio,

 uma águia,

 olhando as estrelas

 seguindo o vento

a pergunta

   Por dias e dias ele se fazia apenas uma pergunta. Já não mais interessava quando, nem onde havia sido a última noite em que eles estiveram juntos, nem porque, ele não se lembrava apenas e não gastaria nem mais um minuto a perguntar-se aquilo que a memória deveria presentear-lhe. Mas aquela dúvida sim. O perseguiria por toda a vida, talvez.

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