Prosa Poética

Inocência

Quando você foi embora, o mundo ficou monocromático. Inocência, não vê que a fresta da janela irradia tormento em minhas retinas? As velas se apagam, pois, o furacão letárgico destrói toda minha ínfima esperança. Hei de duvidar do senhor quando se sacrificou por nós, para que no fim existam penosos sujeitos como eu. Desovei minha alma, assim como todos os cadáveres que brutalmente joguei aqui no lago abandonado. Por que minhas lágrimas de sangue sempre decaem sobre esses rios e, sua rica cor azul permanece?

Beijo à chuva

Num manancial de sussurros a noite desabou num aguaceiro de
Beijos e caricias tórridas intensas e supramentemente hipertensas
A noite sensual e aperaltada adormece acalentada por delicodoces
Gargalhadas fiéis, flamantes e absurdamente revigoradas
 
A escuridão caiada de fluorescências notívagas luzidias e petrificadas

Palavras ao vento

Amar é tentador
quando palavras inaudíveis não
chegam ao coração
pode ter efeito, tom enganador
as palavras ao vento com ameno sentimento de amor ,
pipas no céu azul sem vento ,
não combinam
tristeza de menino, coração em dor
é melhor ser analfabeto ou residir num deserto abrasador .
Palavras ao vento é cavalo que não se sela
porque palavras ao vento são rápidas
e se despedem de toda verdade,
palavras podem ser desajeitadas
quando não são embriagadas de amor
Amar é estar despreparado

Silêncios indesvendáveis

Desancorada a luz flutua ao longo do horizonte estático
Analógicos são os silêncios fluindo no poente algo enigmático
Só um estóico e obstinado sussurro adormece além subtilmente profilático
 
Desencaixotado o tempo liberta cada hora resoluta e inabalável
A saudade desempoeira um gomo de solidões genéricas e inevitáveis
Na melancolia de uma prece nostálgica fervilham palavras tão inolvidáveis
 
Sinto e saboreio a gastronomia das memórias famintas e imperscrutáveis

A arte do eu

Eu, Matheus, sou falso. Cheguei a essa conclusão hoje de manhã. Não falo o que é necessário, apenas o desconfortável para as pessoas. A indiferença correu minhas vísceras, tudo é tanto faz, tanto fez; se eu morrer amanhã, não faz diferença, nem para mim, quiçá, nem para todos. Sou honesto o bastante para admitir meu amor pelo mundo. Quero ser parte dele, uma peça do quebra-cabeça, jogar o seu jogo e raciocinar como ele. Simultaneamente, faço o possível para afasta-lo.

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