Prosa Poética

Um de nós...

Encontra-me a delicada
 
flor
 
onde as pétalas sedentas
 
antes do tempo seu fruto
 
amadurecer
 
mergulham na solidão do dia
 
colorindo a vestimenta
 
delicada dos teus jardins onde cada
 
perfume saboreia
 
desperta, respira e alimenta
 
 
Invento a suculenta noite
 
onde me abrigo

Nocturne

Soltam-se as noites
 
em ventos acometidos
 
no breu dos tempos
 
Diverte-se a solidão
 
dormitando em cada manhã
 
que fenece consumada
 
crepitando, astuciosa
 
pelas insónias apagando
 
todas as escuridões do dia
 
morrendo exumadas
 
 
- Deixei de ler na biblioteca
 

Inverno deste dia...

Em cada poente renasce
 
fiel
 
toda a cumplicidade
 
quando pende pra ti
 
meu sol envergonhado
 
te abraçando de soslaio
 
 
Deleito-me com os fados desta vida
 
murmurando-te encarcerado
 
juntinho a cada faúlha de tempo
 
que me foge exasperado
 
 
Restaram lembranças
 

FURAR BURACOS N'ÁGUA

         FURAR BURACOS N'ÁGUA

Vivo tentando furar buracos n'água.

    Simbolicamente tudo que faço,

           é furar buraco n'água.

    Desde o ventre da minha mãe,

    estou furando buracos n'água!

        Lá no ventre da minha mãe,

fui furar buraco n'água a primeira vez.

Quando mexi, para furar... A bolsa estourou!

Desci com a bolsa e tudo e caí cá fora!

Sofri traumatismo craniano, não conhecia pai nem mãe,

   irmãos, enfim; não conhecia ninguém. 

  Fiquei quinze dias com os olhos fechados.

Click no silêncio

Vou por esses caminhos
 
andando tímido
 
descalçando minhas tristezas
 
à fome
 
entre as esquinas dos afectos
 
gemidos, desertando acometidos
 
 
 
Dou um click nos meus silêncios
 
implorando afeições que ladeiam
 
as mesmas prateleiras
 
onde guardo solenemente
 
as dores marchando resignadas

Conficções

Do tempo quero somente
 
que me despojes deste corpo
 
que te invade
 
Ser o esteio numa promessa
 
que não se cumpre
 
soprando nos dias teu
 
palato com gosto de sonho
 
sonhando devagarinho
 
insuflado de paixão
 
ao colo do teu leito marinho
 
 
 
Do tempo restam
 

Além da luz

Soletrei teu nome
 
à luz extinta da noite
 
num poema quase mudo
 
brotando na existência de um eco
 
luzindo inesgotável no tempo
 
 
 
Meditei no interior
 
desta rima arquitectada na
 
maturidade de um beijo
 
suculento
 
testemunhando a face
 
luzidia onde se dissipam
 

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