Soneto

A CAVEIRA

A CAVEIRA

-neste estágio, todos nos igualamos-

 

Autor: Raimundo A. Corado

Barreiras, 13 de março de 2014.

 

Nessa nossa vida tudo passa;

O final cedo ou tarde chegar

Não há “milagre” que se faça;

Terá fim e a matéria “esgotará”.

 

Tudo na terra tem fim, perece;

Tudo tem seu dia e a sua hora;

O ser humano é mortal, falece;

E nossa alma se desincorpora.

 

Vamos de pessoas a defuntos;

Na gíria do bandido, presunto;

Eis o triste fim dos nossos dias.

 

Ancoragem

Numa íntima hermenêutica em assimptotas
Como em Blake, os sentidos vibram nus.
Entoadas "Songs of Innocence" efluem dos
Que se inspiram e expectam nas remotas
 
Conceptualizações míopes ignotas.
Quando a paúlica bruma é o que seduz,
Jazem numa ocarina sem mor luz.
E enastrá-los-ão vãos setes de copas.
 
Rousseau ou Diderot? Lucy (*) em viés trilhado
É arqueu, arrebol nas fragas da selvagem
Fé, é dilúculo enquanto rolam dados,

Inconsertável

“The horror! The horror!”
CONRAD, Joseph "The Heart of Darkness", 1899
 
Mnemónico delíquio em lemniscata
Em sangue, rúptil pétala ferida.
Pétreo, sevo azimute sem uma saída
Deflagra-se imanente ainda hoje a cada
 
Melodia ou conjunção, o breu não difracta.
Nímia obnubilação n'alma despida.
Quis submergir a própria névoa em vida
E desacontecer. Nefelibata
 
Num imo de flashbacks redemoinhado,

Infrene

"A arte termina na forma, mas é na emoção que começa."
FERREIRA, Vergílio “Arte Tempo”, edições rolim

Fúlmen, Plutão, borrasca, saraivada,
Taranis de Lucano que abalroa.
Alopsíquica, norte, eixo ou genoa?
Voragem insana que insta a mente alada.

Na fímbria dos meus dedos, quente, ateada,
Ela freme, no enlevo, ábsona soa
A toada, como intrínseca garoa,
Incoa a reivindicar voz n'alvorada.

Geometrizo-a em criação ilocucional,
Adstrinjo-a, tecnicizo-a em fria escansão
Aflo a sublimidade com a qual

Sem Norte

"O destino marcou-nos com o sinal dessa procura e em todos os recantos de existirmos ele se manifesta."
FERREIRA, Vergílio “Arte Tempo”, edições rolim

Marmórea a Mnemosyne, eu nua em espuma
Impoluta, fremente ranjo os dentes,
Mordo arrepsia acerada qu'entrementes
Implexa, me atordoa. Imerjo enquanto uma

Bússola me evanesce e mais nenhuma
Efígie reverbera tão fielmente
Senão uma rosa branca, e de repente
Dissolvo-me - sou cinza que avoluma.

À Bolina

"Deus fez-nos cheios de buracos na alma e o nosso dever é tapá-los todos para navegar."
Vergílio Ferreira

Nem Píramo nem Tisbe ou o pote d'ouro
Após o arco-íris, como combustível
Ou o declinante Hyperion do Keats crível
Qual gnose dum mirífico vindouro?

E nenhum barlavento haure fulgor
Ou estro, qual vão lirismo incognoscível.
Talvez o Endymion porque imarcescível,
Assim invicto em confluir ou a fé que for.

Dentro

"Ser forte à custa alheia é ser fraco à custa própria."
Vergílio Ferreira

Sitiados nas masmorras da existência
Atirados com força à pedra dura
Multidão emparedada não murmura
Antes grita muda à geral anuência.

Catacumbas de sonhos na eminência
De esvaecer, aluviadas n'amargura
De tudo o que de belo se afigura
Intangível - delíquio, sobra ausência.

Óbice, abnegação ou ádvenas desígnios?,
Dos tantos apartados ao anseio d'âmbar,
Todavia há inescrutáveis ortos ígneos

Ser Lusitano

Ser Lusitano

 

As águas extravasaram o leito,

As feras desceram à cidade,

Mas do ilustre Lusitano peito,

Ouviu-se o grito da Liberdade.

 

Todos os Deuses se reuniram,

Bruxas e demónios acorreram,

Do ilustre peito Lusitano saíram

Gritos dos que não se submeteram.

 

Nos mares, Sereias se calaram,

Temendo tamanho terror,

E até Musas se resguardaram.

 

Exaltou-se ilustre peito Lusitano

Enfrentando, sem qualquer temor,

O Mostrengo em pleno Oceano.

 

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