Soneto

A um amigo

Em meu palácio brilha uma chama
No silêncio da minha janela passa o vento
Que por teu doce nome clama…
Oh, que turbulento!

Em meus aposentos de ternura te invento
Sobre lençóis dourados, na minha cama
Onde a vela da fantasia derrete como num convento
E um Deus belo beija uma Dama!

Pelos trilhos silenciosos do encanto
Tropeço nas pedras rubras de um desejo
Enquanto a Fénix renascendo revejo…

HERÓIS ESQUECIDOS

        HERÓIS ESQUECIDOS

 

Não vos louvo tão bem como queria.

Soldado, refugiado, bombeiro...

Heróis dos tempos e de cada dia,

Dais-vos em cada luta por inteiro.

 

Sois vós, heróis valentes e incógnitos,

De corpo a pedir-vos quietação,

Já doridos, suados e aflitos,

Persistis...com vigor , dedicação !

 

Nos, absortos em nosso comodismo,

Tantas vezes ingratos, insensíveis

Vivemos...e seguimos impassíveis.

 

E eu hoje esqueci meu egoísmo

Se...

Se eu fosse uma borboleta Azul
Poisaria em teus verdes campos
Brilhando como pirilampos...
Voaria rumo ao teu charmoso Sul!

Se eu fosse um selvagem Rio
Correria em tuas margens profundas
Plantando papoilas perfumadas
E em tua chama derreteria todo o meu frio!

Se eu fosse um Cometa no teu Universo
Deitaria minha cauda sobre tuas nuvens de cetim
E contigo viajaria à Lua numa caravela de marfim!

Se eu fosse no teu poema um Verso
E na tua caneta a tinta Azul
Na tua senda seria um caloroso Percurso!

Barco Encalhado

Vês-me, tal como eu sou, velho e usado,

Já não me dás valor nem atenção,

As rugas, as brancas e a lentidão

Afastam-te deste barco encalhado.

 

Isolaste-me da tua sociedade,

Sem eu ser assassino nem ladrão

Enclausuraste-me nesta prisão,

Lixeira de cadáveres adiados.

 

Também eu já tive a tua juventude,

Também esse teu  mundo já foi meu

E eu, por ele, fiz o melhor que pude.

 

Ajuda quem ainda não faleceu,

Lembra-te que eu fui jovem como tu

E que tu serás idoso como eu!

Alvorecer

   Alvorecer

Alvorecer místico ! Só em contos !

O sol desponta entre a bruma d' aurora.

Resplandece entre contornos dos montes,

Vai trazendo o calor...que já demora !...

 

Eleva-se devagar, rumo ao céu !

Rouba as trevas, escuridão, o breu.

Lança seus raios e à terra os conduz,

Abraça os girassóis que pedem luz.

 

É esta natureza infindável,

De secreto segredo,insondável,

Qu' afiança a minha fragilidade !...

 

E eu hei-de partir, contrariada !...

INSTANTE

    INSTANTE

 

Há um sopro de vida a cada instante.

Num ato de amor se cria uma vida !

Mas, um só instante é já o bastante,

Para que a vida esteja de partida.

 

Infância... Passageira...um instante...

Juventude...Que se vive de fugida.

Brota...logo se escoa, estonteante...

Na curva, já se vê o fim à vida.

 

Instante ! O mundo é devastação !

Inventa-se guerra...se ela convém !

Instante ! É dor...é a desolação !

 

Estamos bem. Plenos de inspiração !...

Agonia

Agonia

 

 

 

 

Insisto no poema, que contudo se emudece,

Cala-se no tempo que passa,

O estro, antes vivo, derrotado fenece

Num estretor óbvio que fracassa

 

A agonia é provocada pelo quotidiano real,

E nem invocando musas ou o passado

Se aguenta a composição escrita, afinal,

Jazendo esmagada, do acosso azarado

 

Salvar-se...o improviso a teimar...

Na luta contra os espinhos do concreto,

Nesta flor que se quer eternizar

 

Praia de fantasia

Descalça caminho na praia da fantasia
Divagando ao sabor das ondas do desejo
Completamente entregue a elas, embatendo na falésia
Suspirando por noticias como do farol o lampejo.

Olho o céu azul e nada vejo
Mas tudo existe, além do vazio horizonte
A Lua nua dança num festejo
E o Sol desce a poente...

O vento sopra sereno como bocejo
As nuvens desenham um azulejo
E as gaivotas poisam na areia com cortesia!

Marinheiros desfilam em cortejo
Sereias cantam em solfejo
Nas madrugadas frias de maresia...

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