Soneto

ONDE NASCE UMA POESIA SEMPRE COMO POESIA VIVERÁ

Não me venhas de teu mundo que fulguras de anil

Pretendendo que eu vislumbre esse teu cântico naufrágio

Ao som das vozes tão vorazes que soletram nosso adágio

E por fim se dilaceram como um verbo mais senil

 

Não me digas que é honesto o teu folclórico sufrágio

Nem imponhas ao bom grado o que de fato seja vil

Velejando as correntezas que espargem cantos mil

Que não trazem mesmo nada e nem se alinham em presságio

 

Não me digas que é certeza o que não tem explicação

Brumas do desejo

Se teu corpo é a única Ilha no oceano
Como poderei eu não o desejar?
Quando à minha volta tudo é insano
E o meu coração, ninguém sabe amar!

Se a Lua se esconder em teu olhar
Como poderei eu encontra-la?
Quando a caravela no gelo encalhar
E a neblina teimar em abraça-la!

Como chá calmante de erva-cidreira
Anseio beber dos teus lábios um doce néctar
E, em teu coração mergulhar como numa banheira…

A brisa do desejo

Eu queria ser: a essência do teu perfume
A flor de pétalas coloridas da tua vida
Na tua lareira, ser brasa, ser lume
E, no teu cálice, uma sumptuosa bebida!

Na galáxia do teu Universo, a estrela mais brilhante
A luz do luar que entra pela tua janela
Nos teus braços, voluptuosa amante
Sob o reflexo cintilante da luz de uma vela!

Eu queria ser: em tua alma, a brisa fresca da aurora
No teu rosto, um jardim de sorrisos
E, na tua pele, carícia suave a qualquer hora.

Menina ... donzela !

    Menina... Donzela!...

 

Sei d' uma menina, jovem, formosa,

Em seu lindo traje, sensual, rendado.

De passo sereno e harmonioso,

Leva um tesouro... Ainda vedado !...

 

Seus lábios frescos da cor das romãs,

D' olhar tão doce ! ... Mas malicioso !

Perfume de flor, d' aroma a lilás,

Sorriso atraente e tão gracioso !

 

Vai desfilando e lançando charme.

Toda ela graça ! Causando espanto !

Despertando sonhos... Olhares em chama !

 

Menina donzela ! Segura e bela,

Transparência

               Transparência

 

     Se fosse de vidraça a minha alma,

     Saberiam que desejos encerra.

     Simples, banais... e não desejam guerra,

     Só ternos afagos em tarde calma !

 

     Minha alma muitas vezes soluçou.

     E chorou. Mas nem eu a vi chorar.

     A sorrir, cada vez se levantou.

     A cantar, voltou sempre a caminhar.

 

     E quem não conhece a alma d' alguém,

     Desconhece sua essência, seu ser.

     Não sabe dar. Não pode amar ninguém !

 

MÃE

    MÃE

 

SONHEI CONTIGO MÃE ! ESTAVAS TÃO PERTO !

CINTILAVA LUZ  AO REDOR DO ROSTO !

ERAS JOVEM, BELA ! SORRISO ABERTO !

EMITIAS O CALOR D' UM SOL-POSTO.

 

MAS SE DA TUA IMAGEM SÓ RETENHO,

A D' UM ROSTO CANSADO, SEM IGUAL,

D' UM CORPO FRÁGIL MAS DE FIRME EMPENHO,

 COMO TE VI ASSIM TÃO DIVINAL !?

 

EU CORRI PARA TI ! CHAMEI... M' OLHASTE!

E, SERENAMENTE, TU M'  ENVOLVESTE

DE TERNURA, D' AMOR , SEM ME TOCARES !

 

FORAM INSTANTES BREVES, ESBATIDOS.

CANSAÇO

CANSAÇO!

DESPERTEI COM A AVE QUE CANTAVA.

O PORTÃO DO QUINTAL, GEMIA AO VENTO.

O SOL ACOLHEDOR JÁ ESPREITAVA !

SAÍ  DUM SONHO ONDE SEMPRE ME INVENTO.

 

ERGUI-ME DEVAGAR, VIRADA AO CÉU.

A ÚLTIMA ESTRELA, DESFALECIA !

MEU OLHAR SEDENTO BUSCAVA O TEU !

NA ESPERANÇA DE SER COMPREENDIDA.

 

TEU OLHAR ERA FRIO, INDIFERENTE !

OS SINAIS QUE EMANAVAS, FUGIDIOS.

TERNURA PARTILHADA... QUASE AUSENTE !...

 

E FUI-ME DESVIANDO, DEI-TE ESPAÇO,

QUE CRESCEU E FICOU MAIS DISTORCIDO.

A Maravilhosa Máquina do Tempo

O tempo jamais correrá, pois as horas em si não têm pés

Sua vida, seu sonho e o que mais bem quiser só dependem de seu caminhar

Não há nas certezas da vida, a vida em qualquer um lugar

Há traços, rabiscos, rascunhos em fim, há só fatos gravados em grés

 

Se crê que no fim vencerá, que teu futuro será um bom lar

As palavras, as frases e toda oração, serão teu conforto ao invés

Mas se crê em tua própria ambição como um sol que te guie através

Toda a luz e calor, todos os raios do sol se afundarão em poeira estrelar

 

Soneto de Amizade

Se te alegro com o que eu escrevo,

Me presenteie com um sorriso

Para que eu sinta que te devo

Abraçar-te em meu juízo.

 

Cada palavra que te deixo

Certa lembrança tua exijo;

Sincera, doce como um beijo

Que toca o coração mais rijo.

 

Tomara, sejas sempre alegre

Mesmo com meus textos mais tristes!

E minha caneta exubere

 

Esses momentos tão sublimes

De nosso encontro inusitado

De tanto amor inesperado.

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