Descabido

O poeta é um descabido
que transforma o universo em um grão
de areia insignificante e  singelo;
e alça voo sem tirar os pés do chão.

O poeta é um descabido
sem escrúpulo ou senso de proporção,
que transforma as estrelas em farelo
de purpurina pra enfeitar um coração.

1.
apreende-se
no lusco-fusco da alva
seu fôlego incontido

2.
evanescendo-se...
ante a tênue antevisão
da alvorada

3.
despojando-se
inteiramente
de seu omisso breu

4.
dispersando-se
estranhamente
em confidente imersão

Sou a lágrima transitória
que acaba em dor
a sombra anestésica do meu eu
o sorriso inebriante do espelho
— quem dentre estes reinos se reinventou, por favor!
Reensine
qual das dores eu consigo de imediato domesticar
como urso no circo que faz as crianças se alegrarem
aprendiz de um mundo tolo
onde o urso não poderá voltar para
seu verdadeiro habitat salutar
pois quem dobra a esquina
não quer da vida se esquivar
quer amores para apaziguar
também o canhão sem pavio
e megamente o espaço desejado

 
 
 
 
 
 
"Quero cruzar as fronteiras no mundo dos vivos"
RITUAL TEJO. "Fairyland". Perto de Deus. Warner Music Portugal, Lda. 1991. CD
RITUAL TEJO. "Fairyland". Oitentaenove.01. 2012. CD

Da força de Coriolis (1) a transpor
Ao luzente hupodoxe (2) de que adviera,
Por que Alpha Columbae e Theia na noosfera (3)
[Mimesis d' ekmageion (2)] timbrem o alor (4)

árvores mato
odores imagens
de uma paisagem
primordial

crianças soltas
no vento
in free style

foscas folhas
ruidos silvestres
fortes raízes
expostas

no forte manto
de minha recente
memória