O TUGÚRIO ESCALAVRADO

a opressão estarreceu na memória quando o estudo a entendeu.

 

a dor possui um clarão bravio tonificando a consciência.

 

a sensação de ter vivido preso a um tronco que o chão farto irrigou de esperança.

 

o arrimo de palestras beatíficas excita um regenerado sopro que traumatiza.

 

os poemas brotam das mágoas que tapizam o meu caminho lapidoso.

O TIMBRE PARDACENTO

quando o meu hálito carregava os abusos duma trouxa remendada.

 

fui compondo o memorial do desgosto com a postura dum aventureiro sem razão.

 

quando as costuras são frágeis e o sonho regista insucessos.

 

o sonhador se ofertou ao mundo no aconchego de franzinas caravelas.

 

as palavras inventadas por deus (ondas contra ondas num estrondo ensurdecedor), a misantropia recalcada.

Doce esperança

Doce esperança...

Suponho que a esperança tem asas,
tem calda, dentes e tudo espera com calma.
Suponho que possa voar, rabear e morder
e tudo isto faça com dor na alma.
Das suposições eu penso que relaxo
em imaginar que há controle
como se tudo estivesse dentro de um tacho
que misturo quando quero e supero.
Mas não é assim e nem assado
tudo anda por ai dependurado
despendura e se cutuca nos trancos
tudo esta encostado nos barrancos.

A Velha Estação do Trem do Tempo

A estação não é a mesma estação sua
não há mais a luz pálida
dos postes de madeira nua
nem aquela tenra teimosia corada
ou esperteza meia-cura

dá até medo, pois parece 
que tudo advindo é um presságio
tão rápido o agora perece 
quanto um trem ágil
que do descarrilhado futuro já vem embalado

que passa por onde é passado
e vamos ensimesmados tão, tão
só vendo pela janela quimeras

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