Apenas escrevendo

Na desmedida ânsia desta escrita

Me traduzo sem pudor,

Regurgitando a minha angústia

Abençoando os meus amores

E exorcizando os meus desamores,

Vertendo invisíveis lágrimas

Que perdi na dor de nunca me encontrar.

E eternamente me procuro,

Pintalgando o meu pensamento

De cor infinda de esperança,

Numa folha de papel de serenidade inundada

E que revejo numa bucólica e vibrante árvore,

Delicadamente me aplainando

E com ternura me transparecendo,

Singela oferta

Em ti revejo o meu lado breu,

Asas sentidas e de mim arrancadas

Com golpes desferidos no sentir do meu ser

E tu jamais me encontrarás

Pois o viver na mundana surdez sem horizonte

Abarca a tua alma que inocentemente ignora,

Este embaraçoso sentir jamais vivido,

Por um pedaço desta minha alma

Que ansiosa por desvendar

Este estranho viver que revolve o meu ser

E neste tempo revivido sem limite,

Apaga em mim todo o sentir deste fugaz sonho

Somente poemar

E assim me encontro e desencontro

Suavemente o teu olhar tocando

Que me penetra e confunde,

Aquele olhar que jamais encontrei

No mais profundo do meu ser.

E nele arde em mim o singelo fogo

Que da terra ferozmente brota

Com trevas de esperança anunciado

E exalado num profundo grito de agonia,

E que em mim divinamente aterroriza

Nesta desmedida ânsia de viver,

E me seduz e fingidamente me abraça,

Acalentando com ternura todo o meu ser.

Esfusiante liberdade

 

Numa noite de luar as estrelas disseram-me

Um dia os homens sonharão,

Com essa tão desmedida liberdade

Que o meu coração sempre albergou

E o vento trouxe-me uma canção

Que não a sabendo de cor cantei,

E uma alegria imensa

Brotou do caminho que percorro,

E o rosto dos homens sombreou

Com cores de púrpura incandescente,

E esta liberdade que as minhas vísceras carregam

Alegremente o céu coloriu

Com sonhos desencontrados e pássaros errantes.

Intensamente

Neste primaveril entardecer

Um intenso sabor de vida paira

Apega e desnuda todo o meu ser

E perante ti, me ergo, vida infinda

Que de fugaz tempo me eterniza

E incessantemente te procuro em cada esquina,

Breve amanhecer de incessante penumbra

Que delicadamente me abraça e recolhe

Para de mim sua alma toldar,

Breves momentos de sublime glória

Que em mim acalenta e desbrava

Perdidos sonhos que em fulgor renascem

E intensas emoções me desdenham,

Momentos

Um incerto e vago caminho

Que no meu horizonte, me seduz

Poema carne, alma perdidamente

Caos intenso de amarguras presente

E a minha alma ansiando

Pela vida caótica que me devora

E o anseio por a viver e sentindo

Nas entranhas bem dentro do meu ser

No profundo de mim, onde impera a dor

A tua voz delicadamente penetra,

E ancorando o meu ser no teu ventre

De profundos abismos que me deslumbram

E a ti me apegam, e perdidamente anseio

A vida em mim renasce e vibra

Impiedosa esperança

Sempre esta insana insatisfação, brotando do meu ser

Porquê voar se posso andar, desenha a minha alma

E os céus por mim reclamam,

Os meus pesados passos mastigam a terra que piso

E de dor pintalgam esta estrada,

Percorrida sem pudor, de nunca me encontrar

Tendo em mim a vida acalentado,

Num profundo grito me abraçando

E teimosamente as minhas asas reclamam

Esfumando de ansiedade,

Querem partir para em mim me buscar

E sempre à espera de me encontrar.

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