serpenteio entre rochedos aguçados transportando comigo as farpas da clausura; as dádivas sagazes que adquiri nas teias emaranhadas do mundanismo; as mensagens túrgidas que extravasam da minha renovação.
a resistência do crepúsculo
ante sua derrocada
excede qualquer prognóstico
e sucede
a agonia do sol
que se apressa em durar
o mármore do sono
incide na noite
como insólita serpente:
entra pelos tímpanos e sai
impelida como um átimo
que se tarda em dormir
as nossas vidas dilatam-se nos terrenos oníricos da esperança quando soltamos uma linguagem azafamada para desmoronar os preconceitos gerais; ou quando edificamos a paz que distingue os grandes obreiros.
logro ultrapassar os desafetos através de múltiplas transmutações; através da arte de expurgar a alma de tantas furiosas disputas; através dos dilemas inconsequentes que expulso após refletir na dor humana.
promovo o bem-estar para que o meu fado se dilua; para que as façanhas que persigo sarem as minhas enfermidades balofas; para que o gosto de viver me cinja através da avassalante poesia.
as evasões motivadas pelo tédio difundiram a minha sensibilidade; obliquaram para as refregas que criei para anestesiar os meus insucessos; inscreveram as paixões mundanas nos meus repetidos gemidos.
acerco-me das vicissitudes para contorcer a insanidade que exprimi nas minhas digressões: foram dias aviltantes que usurparam os fundamentos da minha liberdade; foram vexames que suportei na esteira dos afetos que nunca consegui.
quis escrever certa feita
sobre geladeira mesa e fogão
parece meio contraditório
discursar sobre futilidades
e desprezar as coisas sérias
mas esta dúvida se desfez
quando imaginei um navio mercante
no alto mar
transportando containers
e marujos frenéticos
para o exílio azul
mas o mar é dia a dia
e eu, sou apenas manhã...
duvido da temperança dos homens e das suas provisões amorosas porque assumo os desenganos contíguos à minha existência; porque lobrigo os atos malvados que os homens produzem nos palcos do sectarismo.