RECORDAÇÕES

Fui alguém, que não dançando, dançou

E fui quem passou momentos tais…

No corpo e na alma, tão reais…

E quem o som da música, em mim ficou.

 

Tantas canções ouvi, que me encantaram!

Muitas dancei, lindas demais…

Outras tristes, sofridas, sempre iguais

Que dentro dos meus ouvidos, lá ficaram.

 

Coreografia da cegueira

E nós incapazes
 
de reconhecer os traços
 
gentis e esfomeados do amor
 
nos entregámos de vez
 
aos cuidados consentidos
 
desta metáfora em desalinho
 
numa coreografia cega,intempestiva
 
sem embaraços, nem contratempos
 
ilibados nesta poesia
 
sufragando todas as ilusões
 
num veto sereno de amor
 

Cinza

Apareceste como és e eu apresentei-me como sou.
Nem te vi chegar, como chega a noite, primeiro um bocadinho, e depois completamente.
Debrucei-me titubeante sobre ti, fui ridículo. Sem charme. Longe da tua perfeição tão pura, tão simples.
Sorriste-me, deslumbrei-me. Falaste-me dos teus sonhos,e eu sonhei. Beijaste-me, e eu nasci.
Seguraste-me, e eu vivi. Apaixonei-me. Dei-te. Deixaste-me, e eu morri. Não recebi. Deixei-me. Esqueci-me.

Galgando a imaginação

Filmei esta poesia em raras
 
lembranças que se apressam
 
na viagem do tempo
 
galgando todas as adversidades
 
vencendo todos os medos
 
que desencorajamos
 
em sonhos e cumplicidades
 
 
– Buscamos na imaginação
 
nossas efemérides vestidas
 
na itinerância de tantas primaveras
 
onde adormeço minhas atónitas

Dente de Leão

Um rugido sai de um dente de leão
O teu pai é careca? O meu é que não
Enraizada a noite sem confusão
De dia casca de pinho no chão
 
Reflexo de luz com imperfeição
Vê-se poesia até no lixo do chão
Até se encontra um bocado de pão
Migalhas inúteis ou um garrafão
 
A perfeição arrasta o rim
Em patas que pousam em mim
Um voo que acaba por fim
No sítio de onde eu vim
 

Pages