TÚNEL VESGO

 

 

 

estava em busca

dos ferrolhos rompidos

no túnel vesgo

que não conduz à saídas

 

estava no invólucro

de um caramujo rasteiro

como a larva no casulo

rompendo a casca madura

 

estava coletando letras

para cunhar palavras urgentes

um sussurro qualquer inaudito

que me valesse o batente

 

estava meneando lustres

como aleluias possessas

no afã de capturar

seu lúmen e calor confessos

 

 

 

 

 

 

Reverso

...e no Instagram uns quantos novos seguidores, de nomes chistosos e sem postagem alguma. Rio-me tanto, quem um dia perguntou arrogante: - "será que eu tenho pivete? Ninguém pode gostar de mim, só tu?"
Na altura, desamparada e subtraída, pensava ter perdido alguma coisa e só soube chorar...
...hoje, beltrano suus' perdidi, pobre ser... conta-se por aí, em paleios de circunstância, quase em crueldade, com sorrisos escancarados, que anda mesmo um traste, fantasiado de parvas alegrias, sob tecidos exuberantes, o tão famoso hálito ofídico e olhos postos no vazio.

Minha alma é feia

Queria falar sobre belas coisas,
mas a minha voz grita na feiura,
canta e diz com uma forte gastura:
morro na mudez das vidas afoitas?

Reencarnarei afundado na miséria,
sinto angústias de vidas de outrora,
barqueiro da água negra à fora?
Quiçá Poseidon da seca matéria?

Martirizado e Jó vai de alicerce,
ensina-me, sofredor de tristeza,
ensina o ensaísta duma torpeza
a brilhar na escuridão que me enferme.

Namoro de Antigamente

NAMORO DE ANTIGAMENTE

O rapaz passava e dizia: - Bom dia moça!

- Bom dia! (riso).

- Vou chamar o seu pai de sogro!

- Vai é? (riso).

E, só isso, já arrepiava o primeiro fio de cabelo do redemuinho da cabeça até as axilas e o rsto segue em segredo de justiça.

E, quando acontecia o primeiro beijo? Meu Deus! Um frio se instalava no pé da barriga misturado com o medo dos pais e a tremedeira tomava conta até os lábios tremiam.

Quando chegava na fase final...

Nada! Nada,nada. Tudo se transformava em dor. Não gosto nem de pensar.

Um vício chamado música

Os raios fortíssimos pausaram-me,
Alberto Caeiro jamais aceitaria
Mas, a Natureza rebelou-se,
Foi impetuosamente contra a poesia:
Os raios cegaram-me a visão.
Sem olhos (ou energia elétrica)
Não observo meus poemas,
Assim como não os sinto,
Nem os toco, nem penso, nem vivo.
A Natureza entendeu-me sozinha,
E sozinha cegou o azul do coração.

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