Na Valsa da Tempestade

A luz de tua ira ilumina o meu caminho

A fúria de teus mares sim me leva muito além

O rancor de tua tormenta só me serve muito bem

É apenas água doce que me serve com carinho

 

Tuas ondas de agonia me transportam para o céu

E o eco do teu grito me permite flutuar

Contra a batida de teu peito ainda posso navegar

E contra o brilho de teu olho velejar como se ao léu

 

E é na queda de teu tom que resplandece a melodia

Que brada forte o meu nome e me torna uma lenda

Nua

       Solidão...

      és tu que estas comigo quando estou deitada no meu escuro e vazio espaço?

      Solidão...

      és tu que me fazes sentir oca, muda a cada meu pequeno passo?

      Solidão...

      és tu que me sussurras quando vagueio sozinha pela rua?

Talvez

Talvez com um pouco de sorte

Talvez alguns dias do futuro sejam brandos

Talvez um homem chegue a Marte

Talvez Israelenses e Palestinos peçam perdão

Talvez a ONU assuma suas responsabilidades

Talvez o dinheiro perca mais valor

Talvez alguém me telefone

Talvez quem sabe eu a veja na cidade

Talvez aquelas luzes sejam da cidade onde vou

Talvez este avião finalmente pouse

Talvez eu veja alguém no desembarque

Talvez eu tenha febre hoje a tarde

Talvez eu consiga terminar este poema

Jazz da Meia Noite

Toca o jazz da meia noite.
Jiggy jiggy, jizzy jazz...
Cigarro a evaporar na ponta dos dedos.
Blues da morte,
Música de má sorte...
Batidas lentas, dinâmica forte.
Súbito saxofone que me rasga em dois,
Que me congela a alma
Da mais profunda calma.
Improvisos solados, ascendentes,
Entre outros tão decadentes...
Montanha russa de melodias
A aquecer-me as noites frias.
Bateria a marcar compasso
Com o escárnio odioso
Com que pelo mundo passo.
E o contrabaixo, lá do seu alto,

Olissipo

Sabe ao Tejo e sabe ao sal
e sabe à excessiva alma
de que é feito Portugal.
Tem gosto a eternidade,
ao que é velho e ao que é novo
e ao deslumbre e a saudade.

Cheiram a luz e a brilhos
suas colinas que o sol doira,
Raiada de becos, trilhos,
escadinhas, largos, travessas...
Há em si tanto mistério,
traz nela tantas promessas.

Prazeres Preguiçócios

Aquilo que mais gosto de fazer
É o acto de não se fazer nada
Deitar me na cama e não me mexer
Deixar vagaroso o tempo a correr
Ouvir música ao de leve tocada
Que ao ecoar, faz ouvidos doer...
Rejubilo em ter a mente apagada
Delicio-me em não pensar em nada
Em ter caminhos para percorrer
Ainda assim não me fazer à estrada.

Ai, doce marasmo que me acalenta a alma...
Um dia destes 'inda faleço de calma!

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