Alma (23-01-2014)

E, de repente, perdido nas malhas do tempo
Vejo-me tão longe do perto que já estive de ti –
Vejo-te vagamente, numa sombra dissipada, num lamento:
Sei que já estiveste em mim e que, um dia, te perdi

Não sei em que emaranhado sem nexo te encontras
Mas despontas, com elegância, na linha do horizonte
Onde o meu olhar, cansado, se lança e descansa
Embatendo nessa Luz forte e poderosa, defronte...

sussurrando

Não há prolongamento na vida, aceita
sei que só os outros envelhecem, convém
tive sorte, e furei as contas à morte,
sobrevivi, crescendo como quem acredita
que morrer fica um pouco mais além!
Quero morrer jovem e  com muitos anos de vida
quero ir ao baile de calças à boca de sino
juntar às cervejas duas noites seguidas
acordar fresco e do amanhã fazer meu hino.
Lutar em todas as bandeiras da justiça
dizer o que convém e fazer o que me apetece
obrigar-me  a marcar mais um golo noutra baliza

Os Pasarinhos

Eu acordo preguiçoso

E os passarinhos estão cantando na árvore do vizinho.

 

Eu levanto sem vontade

E os passarinhos estão cantando na árvore do vizinho.

 

Meu dia corre violentamente

Entre coisas a fazer,

Desejos a conquistar,

Metas a cumprir…

Pensamento, ação, suor!

 

E, a zombar de mim;

A zombar de minha pressa;

Sempre que eu paro um instante

Ouço a algazarra

Dos passarinhos cantando na árvore do vizinho.

O Óbvio

Vós sereis o óbvio.

E, por assim serdes, sereis o mais invisível dos fatos,

A constatação última.

 

Vós sereis o óbvio.

Vossa aparição estarrecerá sempre o mundo.

A ciência sempre chegará a vós pelos caminhos mais tortuosos;

A imprensa sempre espantar-se-á ao deparar-se convosco;

Sereis sempre a conclusão das mais variadas pesquisas.

 

Vós sereis o óbvio.

E nunca deixareis de ser espantoso.

Sereis sempre o desafio às inteligências,

O desdém das genialidades.

 

Vós sereis o óbvio.

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