Caretas
Autor: Ana Flora de So... on Sunday, 5 January 2014
Enquanto dorme o mundo,
Enquanto dorme o mundo,
Insolencia
A poucas horas da esperança um sorriso passou e tocou o vento
Outras almas curvaram-se e expetantes aguardaram o veredito
Ninguém ousou, até então desafiar assim, diretamente o tempo
Todos tinham medo do presente. O medo do eterno maldito
Que sorriso maluco, estrangulou a expetativa, deu a sentença
As outras horas fugiram para o túnel do passado de sentido único
Dos céus desceram raios, vieram ajudar em tamanha insolencia
das bocas os sorrisos se esconderam deixando para trás o louco
Amanhece-me
Agora que o sol nasce
sinto o calor ausente do teu corpo
olho no espaço a tua ida
e na luz deste sol, choro
a despedida,
deste ser vil ainda vivo
quando já morto!
É na casa cinzenta da luz já gasta
neste coração de eco devolvido
que o sol bate e se afasta
como tu e saber
antes de morrer
já ter partido!
Ao lado, num lado qualquer....
Na mesa de pratos alinhados, ao centro da sala encoberta dos raios do sol teimoso deste outono tímido, ainda com cheiro a verão, quatro cadeiras vazias esperam serventia sob a sombra de amplos cortinados amarelo Alentejo, magestosamente pendidos, ocultando as paredes seculares de taipa caiada .
Prendas
Ruas de luz, cores enfeitadas de esperança
é natal aprumam-se os sinos de bronze caíado
ofertas de sol tímido na mao de uma criança
escondem lagrimas nos lábios de um beijo calado
Enganam a alma sorrisos em papel de embrulho
promessas oferecidas ocultam misérias presente
empenham-se vidas a dar um resto de orgulho
de ser pai e mãe e juntos na tristeza estar contente
Não me esquecerei de ti....
Perdemos-nos na batalha da vida
vivemos em silencio os entes que partem
nesta viagem calada somente de ida
somos restos dos pedaços que ficam
lembramo-nos de nós e de todos os outros
somos muito um rasto de cada um
recortamos nas cinzas sonhos aos poucos
e aos poucos nao somos nenhum
As vezes sentamos e choramos por eles
outras tentamos ser o que nao fomos
fragilidade cá dentro da alma que doi
comemos os restos da vida que somos
Bolina
Nas límpidas águas do mundo profundo,
Viagem que a imaginação provocou,
Em sonho bravio, esperançoso, iracundo
Que o poderoso tempo levantou
Heróis que sobrevivem ao vento,
Em agitação fremente e lutadora,
Da liberdade soprada do momento,
Vida inconstante, poética, sonhadora
E mesmo que a maré os atinja,
Contrária, na paisagem assoladora,
Saberão livrar-se do que os precinja
E mesmo que a sorte lhes surja adversa,
MOMENTOS
O coração chora
A alma reclama
E mesmo embalada nestra triste trama
Nos olhos há um triz de esperança
Insisto em acreditar
Neste algo que tudo se pode amar
Será que ao amanhecer
Esta crença tomará conta do meu ser
Ou num suspiro cansado
Mais um dia passará sem ter estado
Sem ter vivido,sem ter realmente amanhecido
Flavia Sorg