Temporal

A chuva na tarde cinza
uma dúvida liquefeita
sonhos diluídos

“o que eu tenho feito da porra da minha vida?”

contemplo a água caindo do céu
enquanto me aproximo do inferno,
o inferno das palavras que não são ditas

enchentes, alagamentos...
é a Veneza do cerrado
e eu não sei nadar

não consigo mergulhar no oceano dos fluidos do seu corpo

pseudodeus
sem o néctar da sua saliva
humanifico-me

EMBRIAGAS-ME

Embriagas-me
Embriagas-me de ti
Para que me esqueça
E endoideça
Queres que me perca
E sim…
Perco-me de mim
E mato-te a fome
Essa fome voraz
Que nunca se satisfaz
Rasgas-me
Virgens caminhos
Falseias-me a incerteza
Sabes que não posso voltar atrás
Não posso…
Não quero…
Quero-me embriagada
Perdida
Cativada
Libertada…
Que me alicies
Mente-me neste instante insóbrio
Eterno momento fugaz
Em que te mato
Mata-me
Esta fome voraz…

Enterrado vivo

 

Enterrado vivo

 

Apavorante fantasia ser enterrado vivo,

Mas apenas para realidade, transformada,

Não para verdade insuportável.

 

Descortinando a fantasia,

Sem misturas,

Ser enterrado vivo é uma prova de amor.

Nada mais é do que a verdade de viver novamente no ventre materno.


 

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