SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA

No teu corpo meu colorido

É muito mais vibrante

Em teu suor minhas cores

Se acentuam em matizes

Que florescem do âmbar

Num sinestésico ardor almiscarado.

 

Sou um mosaico de porcelana bizantina

Um enigma dos hieróglifos egípcios

Mas quando em teus braços decifrado

Sou aas cores de Klimt endeusado

Tua Sagração da Primavera.

 

LÚDICO

 

a Ângelo Gabriel

 

Filho que pai

Sem parte inteiro

E fica de mãe abanando

O leite chorado das mãos.

Pipoca de dor a saudade

Que lambe o meu carrossel

E brinca de longe pertinho

De cabra-cega no escuro

De ´tô-no-poço´ sem fim

Num quebra-cabeça de sonho

Que corre o tempo ligeiro

E esconde-esconde de mim.

*NOUTES DE CHUVA*

Eu não sei, ó meu bem, cheio de graças!
Se tu amas no Outomno--já sem rosas!--
A longa e lenta chuva nas vidraças,
E as noutes glaciaes e pluviosas!

N'essas noutes sem luz, que--visionarios--
Temos chymeras misticas, celestes,
E scismamos nos pobres solitarios
Que tiritam debaixo dos cyprestes!

Que evocamos os liricos passados,
As chymeras, e as horas infelizes,
Os velhos casos tristes olvidados,--
E os mortos corações sob as raizes!

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