_ESTOICISMO_

 

Tu que não crês, nem amas, nem esperas,
Espirito de eterna negação,
Teu halito gelou-me o coração
E destroçou-me da alma as primaveras...

Atravessando regiões austeras,
Cheias de noite e cava escuridão,
Como num sonho mau, só oiço um não
Que eternamente echôa entre as esféras...

--Porque suspiras, porque te lamentas,
Cobarde coração? Debalde intentas
Oppôr á Sorte a queixa do egoísmo...

Deixa aos timidos, deixa aos sonhadores
A esperança van, seus vãos fulgores...
Sabe tu encarar sereno o abismo!

PIEDADE!

 

      Em torno da mesma idéa,
      Meu ardente pensamento
      Constantemente volteia.
      Que horas estas de tormento!
      E póde viver-se assim?
      Que força tens, coração?
      Pois tudo que sinto em mim
      És capaz de supportar?
      Oh! basta! por compaixão
      Deixa emfim de palpitar!

Agosto de 1856.

A Entrada da Fênix no Purgatório

 

Segure em minhas mãos,

Os portões se abriram para uma nova era.

Tudo o que verá daqui para frente são montanhas e abismos,

Todavia tuas asas são novas.

 

Sinta o frio que corta a pele,

Vamos correr em direção ao norte.

Da mesma terra que comeu nossa antiga carne,

Nasce a vida paciente,

Que tudo suporta e tudo espera.

 

O Teu Retrato

    Deus fez a noite com o teu olhar,
    Deus fez as ondas com os teus cabellos;
    Com a tua coragem fez castellos
    Que poz, como defeza, á beira-mar.

    Com um sorriso teu, fez o luar
    (Que é sorriso de noite, ao viandante)
    E eu que andava pelo mundo, errante,
    Já não ando perdido em alto-mar!

    Do ceu de Portugal fez a tua alma!
    E ao vêr-te sempre assim, tão pura e calma,
    Da minha Noite, eu fiz a Claridade!

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