Escrevo-te



Escrevo-te porque te sinto. Porque o desejo é imenso.

Escrevo-te porque não te esqueço. Continuas entranhado no meu ser! Fervilhas dentro de mim.

Escrevo-te porque estás vivo. Presente. Por muito que queiras estar ausente.

Partiste com intenção de esquecer. De deixar de existir. De morrer.

Não conseguiste!

Vives na minha alma. No meu corpo. Na minha pele… vives! Jamais vais morrer…

Enquanto eu viver!

TOADA PARA AS MÃES ACALENTAREM OS FILHOS

_A Bertha Cayolla Gil Vianna_, minha sobrinha

Oh Desgraça! vae-te embora,
Que esta linda criancinha
Andou no meu ventre e agora
Trago-a nos braços. É minha!...

Do berço, segue-me os passos;
Onde eu vou, seus olhos vão...
E quando a aperto nos braços
--Abraço o meu coração.

Quando o seu chôro receio,
Embalo-a, faço que acceite
A alegria do meu seio
Na brancura do meu leite...

*Ballada do Caixão*

O meu vizinho é carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte:
Ponteia e coze, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda a sorte:
Mogno, debruados de velludo
Flandres gentil, pinho do Norte...
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vae a aborrecer,
Fui-me lá, hontem: (era Entrudo,
Havia immenso que fazer!...)
--Olá, bom homem! quero um fato,
Tem que me sirva?--Vamos ver...
Olhou, mexeu na caza toda...
--Eis aqui um e bem barato.

HERESTA

Que magua ou que receio
    Dos olhos te desata
    Aljofares de prata
    No jaspe do teu seio?

    Bem intima ser deve
    A pena que te opprime,
    Flôr tenra como o vime,
    Flôr pura como a neve!

    --Compunge-te isso, dóe-te
    Vêr esmaltando o calix
    Da erma flôr dos valles
    O balsamo da noite?

    Se aos olhos nos affluem
    As lagrimas, parece
    Que a dôr nos adormece,
    E as maguas diminuem.

*OS LOBOS*

La neige batait les vitres...
     (Gustavo Droz)

Cae lentamente a neve em cima dos telhados.

Tres longos dias crus, terriveis são passados,
Que o rude lavrador anda por fóra ao vento,
Á neve, ao frio, ao sol, em busca de alimento,
E ainda não voltou. Um dos tres filhos chora;
Rija e sonoramente, a chuva cae lá fóra.

_Na despedida de hum Ministro, que partia levando seus Filhos_.

A Lei da pura amizade
Minhas lagrimas condemna;
Quer que ceda a minha pena
A' tua felicidade;
Vai; e em quanto a vil maldade,

E a intrigante cubiça,
A baixa inveja, a injustiça
Pézas na recta balança,
Conserva de mim lembrança,
Que he tambem fazer justiça.

Lançamento do Livro: DICOTOMIAS Do Autor: Hélder Gonçalves

Apresentação de poesia com convidados de honra
Música ambiente
Apresentaçã audio-visual
Sessão de autógrafo
Porto de honra

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BALLADA DA NEVE

Il pleure dans mon coeur
Comme il pleut sur la ville.

Verlaine

_A Vicente Arnoso_

Batem leve, levemente
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...

É talvez a ventania;
Mas ha pouco, ha poucochinho,
Nem uma agulha bolia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...

LEONOR. (_Burger_).

Ralada de ruins sonhos
  Já desperta está Leonor,
  E 'inda agora os céus d'oriente
  Da manhan tingiu o alvor.
«Guilherme, és morto?--ella exclama--
  Ou trahiste a pobre amante?
  Se vives, porque retardas
  De te eu ver feliz instante?»
Nas tropas de Friderico
  Tempo havia que partíra
  Para a batalha de Praga,
  E cartas delle quem vira?
Mas a imperatriz e o rei[1],
  De guerras, emfim, cansados,
  Depondo os animos feros,
  De paz faziam tractados.

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