Os Meus Versos

Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...

VENTURA

    O sol na marcha luminosa vôa
    Lançando á terra magestoso olhar;
    Passa cantando quem o ar povôa
    E a praia abraça venturoso o mar.

    No bosque o vento dôce canto entôa,
    Ouvem-se em côro as multidões cantar;
    Que a um só triste o coração lhe dôa,
    Que eu seja o unico a soffrer, chorar...

    Por ti, saudade... de quem vai tão perto
    E a quem dos olhos e das mãos perdi
    N'este tão ermo lugubre deserto!

*ACCUSAÇÃO A CHRISTO*

Bradava um dia ao Christo, ao Redemptor,
Satan, cançado d'insultar os astros:
--Eis-te pendido ahi qual velha flor,
Propheta escarnecido nos teus rastros!...

Vê como a Egreja vae! baixel sem mastros!
Navio roto em mares do Equador!
E os seus padres tem ouros e alabastros,
E folga, Messalina sem pudor!

Tem lançado teu corpo aos cães e aos corvos!
Falsificado a Lei, cheia d'estorvos,
E fogueiras erguido, ó Christo! ó Cruz!...

*Pobre Tysica*!

Quando ella passa á minha porta,
Magra, livida, quazi morta,
E vae até á beira-mar,
Labios brancos, olhos pizados:
Meu coração dobra a finados,
Meu coração poe-se a chorar...

Perpassa leve como a folha,
E suspirando, ás vezes, olha
Para as gaivotas, para o Ar:
E, assim, as suas pupillas negras
Parecem duas toutinegras,
Tentando as azas para voar!

Neste venturozo Dia...

_Ao mesmo Senhor em outro dia de annos_.

Neste venturozo Dia,
Honrado, e honrador Marquez,
Sempre eu vim a vossos pés
Trazer a offerta em Poezia;
Ante Vós a Lyra erguia
Humilde, alegre, e casquilho;
Mas hoje mudando o trilho,
A bem, Senhor, me levai,
Que sendo os annos do Pai,
Dê a Colgadura ao Filho.

*Paysagem*

      O sol adormecera no horisonte;
      As nuvens em retalhos somnolentos,
      Parecem nos bisarros tons cinzentos
      O grupo despenhado de Phaetonte.

      O riacho deslisa ao pé do monte
      Em frequentes e turgidos lamentos;
      A philomela ensina o canto aos ventos
      No chorão, que murmura junto á fonte.

      A varzea rescende á larangeira!
      Da cathedral nas frestas em ogiva
      Um rancho d'andorinhas s'enfileira;

Pages