Não sei o que é beleza

Nossa arte morreu faz tempo
O que sobrou são restos de desalento
Olho um quadro abstrato e vejo vômito
Regurgito o material do quadro insólito

Minha náusea faz parte da obra moderna
A barriga está fria, é a vontade que não se alterna
Excrementos da feiura compõe natureza-morta
A pífia subversão da beleza-morta
Deixaram no caixão velho uma mentira intelectual
Ou talvez eu seja apedeuta e não veja o novo normal?     

No meio de mim

No meio de mim flutua uma prece corroborante e prolixa
Sucinta toda ela se engalana de palavras corteses e profundas
É o retrato da fé que se esgueira no meio de luminescências fecundas
 
No meio de mim o silêncio traduz-se num eco casto, esdrúxulo e gentil
É o axioma matemático onde se multiplica um afago e um olhar de perfil

A árvore cai

Permaneço atrofiado em minha literatura. As raízes dos aforismos não convencem mais as mudas do jardim bem cuidado; as regagens dos parágrafos jocosos não mais hidratam à terra seca da base. Meus troncos estão grunhindo em sons quebradiços como cacos ao chão, e minhas folhas afoitas fugiram dos meus ombros.

Demiurgo

A linha do universo é tua,
E o embaraço que atua
Enrola na teia íngreme
A humanidade tisne:
Presa na arma: matéria
Aracnídeo torra a pérfida
Raça humana, mas logra
Deus e teus anjos afora
Não há escapatória
O rei da misericórdia
É o carrasco do júbilo,
Como és o murmúrio
Dos ventos fatídicos
De invernos lúdricos  

 
 

 

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