FAGULHA

 

 

 

ter a ideia de um verso

é como um lúmen na sombra

que quer sua metade vedar

aquela metade bem-vinda

que teima em confrontar-se

aos comportamentos cômodos

da inércia e alienação

 

(quando tudo pede um raciocínio

ou uma predestinação...)

 

ter a ideia de um verso

é mais que simples desvario

intelectual

é resina que nutre de cor

o fôlego avassalador

de um poeta asfixiado

em comoção

 

 

 

 

Em Kiev...

Em Kiev o tempo consome cada hora que se esboroa
Entre as entranhas das lamentações esfomeadas…tão cáusticas
Sem resgate cada segundo volatiliza-se numa palavra arrática
 
Na periferia do tempo todos os lamentos povoam a epístola da
Mais inspiradora fé convertida nesta visceral esperança deteriorada

Indriso — I

Imortalidade da alma sórdida
É o recurso daquele esquecido
Desistiu da carne sofrida

Porque viveu em inútil suplício
Perambula fora do caixão
Pois, foi encontrado morto no sótão

A realidade de uma vida sequer
vivida, ou uma história de ficção qualquer

Medo do escuro

A lua cheia te aterroriza?
Milhões de estrelas te limita?
O nado voraz dos peixes,
Do rio escuro, os feixes
brilhosos do sol abandonado
Esquecido pelo teu afago

Ora, não tenha medo
Garota, estou em apego
A ti, a escuridão e ao todo
Acendo tochas de fogo
Com meu abraço, tudo
Permanece, até teu luto
Pelo sol que fenece o fruto

Por ti, morro se necessário
Mas como na viagem
de um trem, serei teu itinerário
E nosso amor, a bagagem

Versus

"Your will shall decide your destiny."
BRONTË, Charlotte "Jane Eyre", 1847

Num pentagrama, a esmar, doxa e episteme
Devêm em isagoge que as subsume,
Convolvidas no ambívio sem que um nume
Ou um Crugal (1), vox silentis, luza estreme.

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