Sudário dos silêncios

Adormece a noite aconchegada ao altar da solidão
Enquanto rendida viceja uma emoção tão submissa
No labirinto da vida amordaça-se a luz mais movediça
 
Envolta no sudário dos silêncios a escuridão mumificada
Esboroa-se qual lamento tristonho e intimidante, até deixar

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Cai chuva no meu telhado
Chuva leve, miudinha
Bate no chão, escorrega
Como a agulha na linha

Ouço o tilintar das pingas
Uma a uma na varanda
O silêncio faz propaganda
Em tom doce e melodioso
A uma noite enriquecedora
Tranquila, compensadora

Avisa um amanhecer
Que ao acontecer
Trará uma nova página
E seremos nós a escrever
O rascunho dessa dádiva
Que tem por nome Viver.

Emília Lamas

FORÇA

FORÇA

Nasce o sol
Nasce a lua
Nascem plantas bravias
Nascem flores encantadoras
Nascem pássaros e melodias

A Natureza é uma força
De grandeza inconfundível

O Homem também tem força
E com força acredita
Que a força nele existente
Fa-lo-á ser persistente
Pode até deambular
Mas se a força o desejar
Não saberá rejeitar
A direção do caminho.

Emília Lamas

SÁBIO APRENDIZ

Como pode alguém oferecer bondade
Se não a tem dentro de si?
Como pode alguém dar carinho
Se este não habita a sua essência?
Como pode alguém respeitar
Se não se respeita nem se sabe amar?
Como?
Ninguém pode dar aquilo que não tem
Mas pode porém
Começar a praticar
Como se piano quisesse tocar
A música entretanto treinada
Será sentida e projetada
Revelando o esplendor
De um sábio aprendiz.

Emília Lamas

Silêncio sem nexo

Sem nexo o silêncio hibernou no tempo quase estilhaçado
Não existe cura para aquele eco que feneceu tão mediático
Jaz ali, abandonado no mausoléu dos lamentos mais fanáticos
 
Um incoercível olhar enigmático flui pelo corrimão das
Palavras inconformadas, indivisíveis e alucinadas, deixando

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