eu acho que as vezes
Autor: henriques on Wednesday, 20 November 2024eu acho que às vezes,
eu acho que às vezes,
sofreio a alma para não derramar tristeza na gente que me rodeia; para recrudescer a busca daquilo que me encanta; para revigorar a ascese que atravessa o meu destino; para oferecer o meu lazer à sublime poesia.
realço a têmpera dos poetas que elucidam as querelas mundanas com as palavras delicadas provindas da sua sensibilidade; com as virtudes que resistem à inveja e às reprimendas da multidão; com os seus exemplos de vida.
ascendo a escadaria da dor para testemunhar a sobranceria dos homens; para transverter o seu pranto em versos contra a displicência; para indeferir a poluição emocional que os consome; para replicar aos seus valores ultrapassados.
ingiro os poemas que invento para afugentar a tristeza; para progredir até ao âmago dos dilemas globais; para elucidar a minha existência tumultuosa; para desmentir a mundana perceção.
o pudor que concentro tem um lastro de genuinidade que enriquece as minhas reflexões; permanece imune aos tentáculos mundanos para progredir na senda duma austera viagem; extirpa a malvadez do meu comportamento.
convoco a ternura para a oferecer àqueles que leem os meus versos; para expor a ascese que excita os meus pensamentos até raiar a harmonia; para nutrir os cânones da minha erudição.
as doutrinas que manifestam uma excessiva indulgência contêm artifícios nos seus pensamentos: sinalizam os malefícios sociais para os converterem em dísticos insensatos; para reunirem à sua volta os desígnios da hipocrisia.
celebro a vida quando erijo castelos no ar; quando escorraço os meus projetos mundanos; quando a minha solidão floresce porque divirjo dos pareceres gerais; quando entorno quimeras no núcleo das minhas contusões.