Amor

Busca

Continuo a tua busca,

Na certeza de te querer inventar,

Na tua essência que me ofusca,

Apenas assim te posso reencontrar.

Foram as páginas de livros,

Que surgiram diante do espelho,

Que soaram aos meus ouvidos,

Que me mostraram que a ti me assemelho.

Somente te vi uma vez,

O teu olhar cruzou-se com o meu por um fio,

Foi a escolha que a vida fez,

Desapareceste para o vazio.

Luto com todas as minhas forças,

Se é que isso traz algum resultado,

Só peço que me ouças,

Cumplicidades

Cumplicidades
 
Que se direccionem todas as palavras
que não somente aquelas 
ao amor invocadas
ainda que sobrevivam ao passar do tempo
que se protejam nos meus silêncios
que se multipliquem todos os 
dias felizes e sem artifícios
domesticando sem vícios
sinais e ecos
de cumplicidades nunca intimidantes
nem contraditórias
mas que nos restituam
no presente 
uma brevidade nos abraços

Reflexos

Reflexos
 
E afinal 
quem preenche
os meus dias desolados
perpetuados num trago de cortesia 
assolada, esfomeada, 
petrificada e indiferente
enquanto olho além do mar 
e deixo mais que um beijo purificado
sem lamentos resignados
apenas restar todo em ti
abdicando o amor
indistinto, vassalo
embriagado aqui e ali por instintos
desesperados
salpicados desta poesia inexplicada

Compelido

Compelido
 
Sinto-me total, 
absolutamente renascer
de tantas palavras te incutir
despovoar sequioso
este meu caos emocional 
em que me abandono qual arguído
percorrendo todas as metamorfoses 
aprisionadas em mim
ansiando este dom ávido de existir
até o sono chegar e adormecer-me
encantando-te no jardim maravilhado
que repousa compelido em teus braços
perfumado, virtuoso e delicada

Sonho cativo

Sonho Cativo
 
Sem contrapartidas, 
morrendo ali no brejo
erguido na destemida manhã
enterrámos fugazes segredos
dirimímos eternos prazeres
inconsoláveis saudades
junto ao beiral
dos sonhos cativos
contraditórios, sem orientação no tempo
nem calendários por cumprir
apenas extinguindo 
nosso crer à luz mortiça e comedida
dos nossos desejos
plantados e mais arraígados

Penitência

Penitência
 
Ah, como o coração
às vezes tem este jeito imperfeito
de ser, até feroz
e ímpetuoso
nas possibilidades afectuosas
mas repleto de abstracção
tudo ilumina a quem lá mora
e depois lá se apaga no pavio da vida
quando nem refeito dos amores
se debruça no tédio do meu clamor
este coração já sem objecção
delimita-se entre fronteiras
de palavras que se arrebatam
escandalosamente

Por aqui...

Por aqui...
 
Por aqui onde as horas
passam tranquilamente
reverentes ao tédio que me assola
te envio servil todo eu
imperfeito que te espera
na noite desesperada
que esmorece do teu jeito
e anoitece ali onde se faz breu
 
Aqui onde o zénite do meio dia
mais aquece a penumbra
onde me escondo na afrodisia
dos beijos castos teus
rogo à minha fé uma esperança

O Dia e a Noite ; O Sol e a Lua

Corre o Dia e a Noite 
Num apresso habitual
De dois corpos alheios
Que se juntam sobre o Céu,
Sobre o Sol-poente e a Lua.
Em lados opostos da abóbada celeste
Observam a luz e a química
Dos dois corpos que num só se tornam
Por vontade de pedaços cósmicos divergentes,
Destinados à aristocracia de não tocar.

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