Dedicado

_OPIÁRIO_

AO SENHOR MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estióla
E eu vou buscar ao ópio que consóla
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bórdo ha-de matar-me.
São dias só de febre na cabêça
E, por mais que procure até que adoêça,
Já não encontro a móla pra adaptar-me.

Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos d'ouro a minha vida,
Onda onde o pundonôr é uma descida
E os próprios gosos ganglios do meu mal.

Frases

"Personifico a poesia como uma fuga de mim mesmo, uma maneira de brincar comigo mesmo, de observar para além das barreiras edificadoras da fortaleza constituída de pedras rígidas e angulares que construí ao meu entorno."
 
"As inquietações do pensamento convergem para o conhecimento, e as inquietações da alma atingem o fugaz sentimento da emoção."

A' Illustrissima, e Excelentissima Senhora Dona Catharina Micaella de Souza...

_A' Illustrissima, e Excelentissima Senhora Dona Catharina Micaella de
Souza, tendo o Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor Luiz Pinto de
Souza expedido Avizo para se imprimirem as Obras do Author na Officina
Regia_.

CARTA.

Senhora, Apollo bem sabe
Que sois digna companhia
De quem em doirados annos
Lhe honrava a doce Poezia;

Inda de viçozo loiro
Lhe guarda a verde coroa;
Fez-lhe falta em sua Corte,
Mas a bem de outra o perdoa;

Ao Excellentissimo Senhor D. Lourenço de Lima...

_Ao Excellentissimo Senhor D. Lourenço de Lima, tendo promettido ao A.
que quando chegasse das Caldas, havia lembrar a mercê de se imprimirem
estas Obras_.

CARTA.

Ora do cume dos Montes,
Ora em suas verdes fraldas,
Hia estender os meus olhos
Na longa estrada das Caldas;

Sobre escumozos cavallos
Trotando empoada sege,
Disse quem fez os meus versos
=Ahi vem quem os protege;=

Ao Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor Marquez, de Ponte de Lima, Ministro de Estado...

_Ao Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor Marquez, de Ponte de Lima,
Ministro de Estado, pedindo-lhe o A. licença para ir ao remedio de
banhos, na occazião em que o mesmo Senhor se tinha encarregado de lhe
promever a mercê de se imprimirem as suas Obras na Officina Regia_.

CARTA.

Senhor, entreguei meu livro;
Foi esse filho mesquinho
Co'a esteril benção do Pai
Lançar-se aos pés do Padrinho;

Dei-lhe em dote inuteis rimas,
Dei-lhe vazio thezoiro;
Mas vossas mãos milagrozas
Convertem nadas em oiro;

Sonhei esta noite que te trazia a Primavera aos dias

Sonhei esta noite
que te trazia a primavera aos lábios...

(E esta noite
não mais foi
do que
qualquer
uma
que podia ter sido
qualquer uma das outras)

Sonhei que terias na voz
um esquecimento
qualquer
uma palavra que porventura
te tivesse ficado por dizer

Mas eis-me de volta aos dias
sem varandas
sem esperas

A hum Leigo, que era vesgo...

_A hum Leigo, que era vesgo, e que nunca teve fastio; e a quem por acazo
tocou na cabeça a ponta de hum espadim_.

Ferio sacrilega espada,
Alçada por mão traidora,
Cabeça, que sempre fôra
Té aos Barbeiros vedada;
D'entre a grenha profanada
Corre o sangue á terra dura;
Tosquiou-se a matadura;
E o casco rebelde a ordens,
Precizou destas desordens
Para ter Prima Tonsura.

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