Desilusão

Desilusão

Com o tique-taque do relógio
Subi da tua ternura os degraus
E nas tuas estrelas encontrei refúgio
Em momentos maus...

Eras Sol e eu Lua? Não sei!
Quando a noite roubou o dia
Em teu corpo eu repousei
Como numa bela moradia!

Acordei ao raiar da aurora
Banhei-me no teu oceano
Vesti-me e fui embora...
Pensando: tudo foi um engano!

Ainda olhei para trás hesitante
Limpando as lágrimas da tristeza
Corri pela areia queimante
Do sonho, inspirada na tua beleza!

SONHOS DE POETA - II

SONHOS DE POETA – II

Poema de sofrimento, um grito alado de dor
que ecoa no vazio, entre as margens do lamento.
Na conjuração das asas, para transpor abismos,
segura nas garras o símbolo do sentimento.
Fragrância latente no estigma da alma em flor,
verbo devoluto que se desfolha nos eufemismos
dos pensamentos trajado no negro da desilusão.
Sem alento, as visões mastigadas, jazem caídas,
varridas, para esse abismo profundo de solidão.

Lugar

Nadando no mais profundo de mim

Encontrei um espaço onde posso sonhar

Onde posso um dia encontrar

Aquilo que eu quero ser

Nesse espaço não há medo de viver

E a vida me parece tão real

Longe de tudo o que é banal

Nadando no mais profundo de mim

Existe cor e balançar

Existe o vento a soprar

E se eu estiver a chorar

Morte

Aqui no quarto escuro
Silencio vem me ver
A morte me buscar
Pra longe vou viajar

Brincar com as palavras
Belo modo de se expressar
Mas qual a honra nisso
Se não pra bajular

Não adianta escrever
Sem nada pra dizer
Vai ser só blábláblá
Como acabei de falar

Não sou poeta
Nem escritor
Sou só um garoto
Com o coração melado de amor
Doce como aquela flor
Pena que já morreu, toda cheia de dor

Cravo negro...

Cravo, onde está a tua cor,
não sei dela, não sei de mim,
roubaram-te a esperança,
a mesma que tiraram de mim...
Estás de luto vestido,
quem te trajou afinal,
foi essa gente desgovernada,
que anda a matar Portugal...
Vejo as tuas lágrimas sobre a terra,
e choro eu contigo também,
com saudades desse tempo,
em que não pretencíamos a ninguém...
Venderam-nos a alma,
deixaram-nos o corpo ao abandono,
somos como cães sem raça,
de quem já ninguem quer ser dono...

FORAM AS GENTES DA MINHA GREI!

 

FORAM AS GENTES DA MINHA GREI!

 

Foram as gentes da minha grei

Que tudo me contaram

E eu sempre acreditei

Em tudo quanto falaram

 

Disseram-me dos sonhos

Sussurraram-me dos amores

Murmuraram-me das dores

Falaram-me do que era risonho

 

Não falaram da vida negada

Da verdade massacrada

Da mentira escondida

 

E eu, em vivência invencida

Fui morrendo: de venenos,

Amores e sonhos pequenos!

 

Ezequiel Francisco

Pensem as sétimas palavras

Quem diz como as coisas são?
Estou a questionar-me
devido a ilusão
de estarem sempre a pressionar-me.

Esta ilusão faz com que fique farto;
Tanta pressão
e, depois, quando passo para o acto,
uma desilusão.

Querem que, também, seja como vós?
De ser por ser,
até viver esperando que o deus atroz
me venha comer?

É assim que zelam pelo futuro?
Ver quem somos
se desvanecer no escuro
e, ainda, contribuir para oprimir
o futuro que fomos?

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