Fantasia

DIA ATÍPICO

 

 

 

hoje farei diferente

todos meus atos rotineiros

 

vou dormir após acordar

e comer no almoço o jantar

 

vou rir das pequenas tragédias

e lamentar as vitórias que perdi

 

vou me vangloriar pelas penúrias

e chorar pelas fáceis luxúrias

 

mas não se espantem comigo

por este desagravo ambíguo:

 

é somente uma reflexão

sobre a casualidade da vida

 

 

 

POESIA... PRA QUE SERVE?!

Serve para 'poetizar' essa vida e esse vasto mundo que tanto precisa dela!
É pro mesmo que serve um poeta, a escrita, a fala...
pra se comunicar, recitar, cantar e encantar!
Serve para se falar o que se sente, deveras ou 'finge'!
Para se escandir ou falar livremente sem palavras medir ou perder a ternura!
Serve para se ler e reler até que se entenda com o coração...!
Para se ler em leitura silenciosa o que se diria só com um simples olhar 
ou clama em voz alta a emoção!

AFAGO DE AFRODITE

nasce na córnea das sombras
o rufar de planícies sonolentas
sobre
a trilha
dos anjos
vigora nesse instante
uma pausa de fresco silêncio
um acalanto de pedras
soando soando singelas
como uma reverberação
de vozes
no alcance
de meus desassossegos
atingindo num ímpeto
o sopro das pétalas de setembro
(transeuntes ocasionais
dessa elegia)
que
-implacável véu
transborda-se em mim
como um inefável prelúdio
afago afável de afrodite

TATO TREINADO

a palavra é um risco
um rabisco do hibisco
arisco e óbvio
lancinante desvio
da rota dos sentidos
para o mistério
que advém do todo concluído
(como proposta)
para a concessão do sim / não
-sinal dos tempos
em um jorro de contestações
inegavelmente irrevogaveis
mesmo que o aceno do oceano
seja tempestuosa desolação
salmoura saturada e blasfêmia
azia e nó na garganta do labirinto
que ficou denegrido nas temporas
do tato treinado
corado no sal
do ardor dos desejos

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