Geral

Anatomia Poética - A Língua

Sabedora dos sabores,

Das delícias descobridora.

Tua realidade são os prazeres

Que te fazem tão querida, tão vaidosa

Tão perigosa…

 

Todos temos medo de ti!

Tua perfídia, tua tendência à traição

Às vezes nos coloca em grandes apuros.

Mas, ai de nós sem ti!

Tempero para o gosto ideal da vida.

Anatomia Poética - A Boca

Pequena, para que teu valor seja imenso;

Simples, como tudo o que é excelente.

Esplêndida sabedora das delícias da vida.

És a única capaz de expressar a alegria

E a minha sabedoria escorre por ti.

 

 

És uma porta que não pode ser trancada,

Que não sabe ficar fechada,

Que não gosta de ficar parada.

Para alimentar, para beijar, para falar foste inventada

Com um cuidado tão especial que, além de tudo, te faz ser linda!

Anatomia Poética - O Nariz

Estás no centro por seres vital,

Mas, tímido, gostas de esconder-te.

Pequeno, queres passar por desimportante…

Ou andas buscando o céu, achando-se importante em demasia!

Com uma arrogância que não sei se te á própria ou imposta…

 

Gostas de brincar. E tua brincadeira é de avisar

Dos perigos – Quase todos – e dos prazeres.

E de provocar caretas com teus desagrados.

Foste feito com carinho para enfeitar

E requintar, com tua personalidade, o ambiente em que te

    encontras.

Anatomia Poética - Os Ouvidos

Provedor do meu equilíbrio;

Amante de música e de conversas,

Esperto sabedor das curiosidades,

Recebedor das queixas e informações,

Herdeiro de quase todo o conhecimento.

 

 

És o primeiro professor!

Desde o início da vida

És quem ensina os mistérios do mundo.

E, por tua inocência, acreditas na harmonia;

Tanto que é fácil iludir-te com mentiras.

lágrima

Lá bem no fundo, no escuro; o tédio, a mágoa e uma tristeza de sonhos irrealizáveis. Sonhos esses impossíveis de esquecer e por quem existe sempre uma profunda e verdadeira lágrima. Porque será que apenas nos apercebemos do verdadeiro valor do que possuímos somente quando o perdemos.
 

O escalar

Por mais palavras proferidas
Por mais vozes altas ecoadas
Nada seca as fundas feridas
criadas por línguas afiadas

Nada bloqueia a maldade
A agressão por palavras
Que violam a mentalidade
e fazem das ações, escravas

A cobardia de bater
Parte primeiro de gritar
Do falar para enfurecer
Antes de tudo desgraçar

Doméstico apenas o nome
Pois é violência descarada
De quem usa o cognome
“Covarde de mão fechada”

O Velho e eu velho

Quis fugir do destino
Escondendo-me opaco
Na alma de um menino
Mas o velho é macaco!

Sabotei o tempo imuto
Com bombas de ilusão
Mas o velho é astuto!
E atirou-me a desilusão

Cortei amarras ao mundo
Tentando fluir na maré
O velho viu-me do fundo
Puxou-me, perdi o meu pé

Estava quase afogado
Cheio de fel borbulhando
Mas o velho é danado!
E fez-me viver chorando

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