Geral

Que prendam os covardes!

 

Quando Deus criou sua mais bela obra prima: o homem. Deu-lhe o privilegio e a liberdade de administrar tudo quanto havia criado inclusive seu exuberante jardim. Mas um dia ele observando os animais com seus respectivos pares, os rios nascendo em gotas prateadas por entre as fendas das rochas, os lírios com suas flores exóticas, as borboletas colorindo todo horizonte... Sentiu-se só.

 -Então o criador vendo sua tristeza e solidão, resolveu fazer-lhe uma grata surpresa:

MALMEQUER

    Talvez em eu morrendo a teus ouvidos
    Chegue a noticia, que hoje os factos vôam,
    E oiças então os intimos gemidos
            Que exhalo e te não sôam.

    Talvez então, embora me não ames,
    Com esses olhos humidos de fito
    Na minha sombra: «Desgraçado! exclames;
             Amava-me, acredito.

    «Levou a vida amando-me: que prova
    Me podia alguem dar de mais ternura,
    Ingrata como eu era! Abri-lhe a cova,
            Cavei-lhe a sepultura!

*PHANTAZIA D'UM ABORRECIDO*

Eu vivo só das multidões distante,
E tenho um tom solemne grave e emphatico,
Amo Flaubert, Gostavo Droz e Dante,
Sou mysanthropo, hysterico e limphatico.

Sou phantastico, altivo, e caprixoso,
E tenho uns paradoxos meus protervos...
E entre elles conto um livro volumoso...
Em que explico o Remorso pelos nervos.

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Lisbon Revisited

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.

Á LISBOA DAS NÁUS CHEIA DE GLORIA

I

    Lisboa á beira-mar, cheia de vistas,
    Ó Lisboa das meigas Procissões!
    Ó Lisboa de Irmãs e de fadistas!
    Ó Lisboa dos lyricos pregões...
    Lisboa com o Tejo das Conquistas,
    Mais os ossos provaveis de Camões!
    Ó Lisboa de marmore, Lisboa!
    Quem nunca te viu, não viu coisa boa...

II

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