Geral

*NOVA BALLADA DO REI DE THULE*

N'um paiz nada visinho...
Em Thule até mui distante,
Houve outr'ora um rei farçante,
Um rei amigo de vinho.

Quando sua amante fiel
Mimosa e cheia de graça,
Morreu, deixou-lhe uma taça
Que semelhava um tonel.

Era tamanha a grandeza
Da taça que nada iguala!
--Ficava sempre ao esgotal-a,
El-rei debaixo da mesa.

Quasi sempe ao lusco-fusco,
De noute, até horas mortas,
Folgava, as pernas já tortas,
Este rei velho e patusco!

Ser Português...

                                 

Trago ancorado no peito               Brando céu que te afaga
vestido de sol e mar                       sol que beija sem queimar
um orgulho pintado                      as flores que nos teus campos nascem
de cores por explicar,                    e que te querem namorar,

Dispersos

1

    --Soffro por ti nesta auzencia,
    Tanto que não sei dizer.
    --Meu Antonio! Tem paciencia!
    Soffrer por mim é soffrer?

2

    Ah quem me dera abraçar-te
    Contra o peito, assim, assim...
    Levar-me a morte e levar-te
    Toda abraçadinha a mim!

3

    Ai ella é tão pequenina
    Que, quando ao meu collo vae,
    Diz o povo: uma menina
    Que vae ao collo do Pae!

4

*ARANHA*

N'um sonoro theatro antigo da Alemanha,
D'um violino aos ais, banhada de luz viva,
Surgia d'um covil uma grotesca aranha,
Dos banquetes do Som habitual conviva.

O ser sombrio e obscuro, ó meu amor! não priva
Da adoração do Bello, a adoração extranha!
E assim se embriagava a escura pensativa
Da lyrica emoção que nossa alma banha!

Mataram-a uma vez. Não mais a pobre amante
Da Musica, surgiu áquella luz brilhante;
Foi-lhe o velho theatro a sua sepultura...

*DESPEDIDA AO SOL*

Adeus, adeus, ó Sol! grão moribundo
Tão amado dos mysticos amantes!
Vae dourando inda os ninhos e os mirantes
E os sinceiraes, o Mar, o velho mundo!

Vae! vae! ó astro lyrico! no fundo
Das aguas apagar-te!... Os teus instantes
São curtos, coração largo e profundo!
Mas da minha amargura semelhantes!
E, no entanto, astro de fogo, astro tyrano!
Se a tua chaga é funda, no Oceano
Todo o teu sangue ali podes lavar!...

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