EM PETIZ
Autor: Cesário Verde on Thursday, 17 January 2013
Meu pobre amigo! Sempre silencioso!
Assim eu fui. Scismava, lia, lia...
Mudei no entanto de Philosophia.
Não creio em nada! e fui tão religioso!
Tomei parte no Exercito gloriozo
Que foi bater-se por Israel, um dia!
Cri no Amor, no Bem, na Virgem Maria,
Não creio em nada! tudo é mentirozo!
Não vale a pena amar e ser amado,
Nem ter filhos d'um seio de mulher
Que ainda nos vêm fazer mais desgraçado!
(A Léon de La vega)
Olha! sinto-me exhausto
Pomba da minha vida!
Eu serei o teu Fausto,
Sê minha Margarida!
Deixa que o alegre ria
Alma que me estremeces!
Que ruja fóra a orgia
Os prantos, as _kermesses_!
Vamos a colher rosas,
Rola dos meus carinhos!
Pelos brancos caminhos
Nas noutes luminosas!
Sob esta curva azul
Amemos, bem amada!
Na torre levantada
Que gema o rei de Thule!
Despida ver-te é recordar a terra.
Eu não sei, ó meu bem, cheio de graças!
Se tu amas no Outomno--já sem rosas!--
A longa e lenta chuva nas vidraças,
E as noutes glaciaes e pluviosas!
N'essas noutes sem luz, que--visionarios--
Temos chymeras misticas, celestes,
E scismamos nos pobres solitarios
Que tiritam debaixo dos cyprestes!
Que evocamos os liricos passados,
As chymeras, e as horas infelizes,
Os velhos casos tristes olvidados,--
E os mortos corações sob as raizes!
Quando a erva crescer em cima da minha sepultura,
Seja este o sinal para me esquecerem de todo.
A Natureza nunca se recorda, e por isso é bela.
Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã.
As primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço,
Da trovoada de depois de amanhã?