Geral

_SEPULTURA ROMANTICA_

 

Ali, onde o mar quebra, num cachão
Rugidor e monotono, e os ventos
Erguem pelo areal os seus lamentos,
Ali se hade enterrar meu coração.

Queimem-no os sóes da adusta solidão,
Na fornalha do estio, em dias lentos;
Depois, no hinverno, os sopros violentos
Lhe revolvam em torno o árido chão...

Até que se desfaça e, já tornado
Em impalpavel pó, seja levado
Nos turbilhões que o vento levantar...

Com suas lutas, seu cançado anceio,
Seu louco amor, dissolva-se no seio
Desse infecundo, desse amargo mar!

Emilias

(A UMA SENHORA QUE NÃO QUER SER EMILIA)

    Emilia és, quer queiras, ou não queiras:
    Que lindo nome o teu, soante de brizas!
    É um nome de pastoras e moleiras,
    Loira morgada do solar dos Nizas!

    Muitas Emilias ha, entre ceifeiras,
    Ha Emilias nos serões das descamizas...
    Se tu, Senhor! dás nome ás Amendoeiras
    Com o nome de Emilia é que as baptizas!

    Que Santa Emilia te acompanhe, Rainha!
    E com a tua Mãe seja madrinha,
    Quando ella, um dia, te levar á Igreja!

CIDADE

 

Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que

julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do

exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não nota rastros

de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às

expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm

necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um

modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que

Apagão

 

É comum o sapo morrer na lagoa.
O mendigo comer lixo na sarjeta 
O tráfico de entorpecentes nas escolas, 
A fila quilométrica do INSS fazendo curva na rua estreita
O moleque desde a tenra idade viciado em cola.

É comum a violência subjugar a lei. 
A mãe com uma “penca” de filhos no semáforo pedindo esmolas 
O inocente ser refém da mesma grei,
Os filhos desesperados do desemprego 
os escravos das drogas.

É natal

 

Vejo anjos brincando na chuva.

Uma nuvem alvinha sobre meus olhos flutuar

Crianças vestidas de ternos e luvas...

Em noites brilhantes a bailar. 

É natal! Exclama no céu azul uma estrela pequenina.

E na terra... Tão ferida pela guerra, e desamor,

Pelo o egoísmo, e pela dor.

Nasce luz... A paz gloriosa que a todos sublima. 

Por um instante os homens reconhecem seus vis retratos.

Não se veem mais mendigos nas esquinas

O soar inflamado das tribunas “cretinas”

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