ORAÇÃO DA MANHÃ
Autor: Bulhão Pato on Saturday, 12 January 2013
Ali, onde o mar quebra, num cachão Rugidor e monotono, e os ventos Erguem pelo areal os seus lamentos, Ali se hade enterrar meu coração. Queimem-no os sóes da adusta solidão, Na fornalha do estio, em dias lentos; Depois, no hinverno, os sopros violentos Lhe revolvam em torno o árido chão... Até que se desfaça e, já tornado Em impalpavel pó, seja levado Nos turbilhões que o vento levantar... Com suas lutas, seu cançado anceio, Seu louco amor, dissolva-se no seio Desse infecundo, desse amargo mar!
Tu, n'esse corpo completo, Ó lactea virgem doirada, Tens o lymphatico aspecto D'uma camelia melada.
(A UMA SENHORA QUE NÃO QUER SER EMILIA)
Emilia és, quer queiras, ou não queiras:
Que lindo nome o teu, soante de brizas!
É um nome de pastoras e moleiras,
Loira morgada do solar dos Nizas!
Muitas Emilias ha, entre ceifeiras,
Ha Emilias nos serões das descamizas...
Se tu, Senhor! dás nome ás Amendoeiras
Com o nome de Emilia é que as baptizas!
Que Santa Emilia te acompanhe, Rainha!
E com a tua Mãe seja madrinha,
Quando ella, um dia, te levar á Igreja!
E eu te beijava
Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que
julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do
exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não nota rastros
de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às
expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm
necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um
modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que
É comum o sapo morrer na lagoa.
O mendigo comer lixo na sarjeta
O tráfico de entorpecentes nas escolas,
A fila quilométrica do INSS fazendo curva na rua estreita
O moleque desde a tenra idade viciado em cola.
É comum a violência subjugar a lei.
A mãe com uma “penca” de filhos no semáforo pedindo esmolas
O inocente ser refém da mesma grei,
Os filhos desesperados do desemprego
os escravos das drogas.
Vejo anjos brincando na chuva.
Uma nuvem alvinha sobre meus olhos flutuar
Crianças vestidas de ternos e luvas...
Em noites brilhantes a bailar.
É natal! Exclama no céu azul uma estrela pequenina.
E na terra... Tão ferida pela guerra, e desamor,
Pelo o egoísmo, e pela dor.
Nasce luz... A paz gloriosa que a todos sublima.
Por um instante os homens reconhecem seus vis retratos.
Não se veem mais mendigos nas esquinas
O soar inflamado das tribunas “cretinas”