BELLEZA E MORTE
Autor: Bulhão Pato on Friday, 11 January 2013
MERINA Rosto comprido, airosa, angelical, macia, Por vezes, a allemã que eu sigo e que me agrada, Mais alva que o luar de inverno que me esfria, Nas ruas a que o gaz dá noites de ballada; Sob os abafos bons que o Norte escolheria, Com seu passinho curto e em suas lãs forrada, Recorda-me a elegancia, a graça, a galhardia De uma ovelhinha branca, ingenua e delicada.
Ia em meio da minha Mocidade,
Perdido d'affeições, ao vento agreste,
Quando na Vida tu me appareceste,
Sestança, minha Irmã da Caridade!
Ninguem de mim dó teve, nem piedade,
Ninguem n'a tinha, só tu a tiveste:
Quantas velas á Virgem accendeste!
Quantas rezas nos templos da cidade!
Que te fiz eu, Espelho das Mulheres!
Para assim merecer um tal cuidado
E tudo quanto ainda me fizeres?
Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.
Eu sou Assim.
Guel Brasil.
Não sou bonito nem feio
Não sou rico nem sou pobre,
Não tenho muita leitura
Não sou plebeu nem sou nobre.
Não sou branco nem sou negro
Tenho de cair para me levantar
Enquanto me levanto em tropeço
E em tantas quedas, da vida não me esqueço
Enquanto cair e me puder levantar
- Ontem, esbarrei neste caminho
Cambaleando em direcção ao chão
No pulsar activo do coração
Por todas as direcções do meu destino
- Hoje, caminho e tropeço
Caio, levanto-me e volto a cair
Sem parar de me levantar e pedir
Para voltar a cair, mesmo quando não peço
- Amanhã, vou aprender a cair
Mesmo antes de me levantar
Para saber como pisar
Narra-se o poema, ao consumo da reticência
Pelo olhar longínquo, no horizonte do Poeta
Mais alto que a voz, anseio de Profeta
Ao maior das marcas em sua existência
Louva-se o vento, aventureiro abastado
Comendo, por dentro, o pó da essência divina
Ao cantar da lágrima, num sopro que o defina
Por um pouco ao desdém do tempo encontrado
Que as flores prosperem, ao saber da Primavera
Florindo nas cores do olhar capaz
De onde se rompa o peito, libertando a paz
A multidão consumia-me com os olhos;
Tu: Embrulhavas-te no convívio do entretenho;
Eu: Passava por ti; ao largo, quando, no meu coração,
Havia a revolta das diferenças, “por me sentir único”
«Quando queria ser mais: Mais que gente…
E encontrar-te, para mim, naquela virada da sorte;
Tão certa quanto a morte…
Onde teu beijo me acordasse, uma alegria urgente» …
Para se recitar no theatro do Príncipe-Real
Senhores! vêde o sol; diariamente
Nasce, cruza esse espaço e, no poente,
Acaba de brilhar.
É util, é preciso, é necessario,
Não é pois inconstante, não é vario;
É certo, é regular!
Hervas que nutrem, animaes que comem,
E a imagem de Deus--que falla--o homem,
Sem essa luz, dizei:
Vegetavam acaso, existiriam?
Os echos d'esses valles repetiam
Alguma voz? O que!...
7-5-1914
Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.