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FRANCISCA DE RIMINI

 Disse eu então: poeta, vês aquelles,
    Abraçados, velozes como o vento?
    Desejava poder fallar com elles.

    --Chamando-os com enternecimento,
    Em cá passando mais do nosso lado,
    São dois amantes, lograrás o intento.

    Assim que o vento os aproxima, brado:
    Oh almas d'uma eterna anciedade,
    Vinde fallar-me, se vos isso é dado.

    Como um casal de pombas, com saudade
    Do ninho, vem no ar, d'aza espalmada,
    Não mais que por impulso da vontade;

UM BEIJO

Seria o beijo
    Que te pedi,
    Dize, a razão
    (Outra não vejo)
    Porque perdi
    Tanta affeição?

    Fiz mal, confesso;
    Mas esse excesso,
    Se o commetti,
    Foi por paixão,
    Sim, por amor
    De quem?... de ti!
    Tu pensas, flôr,
    Que a mulher basta
    Que seja casta,
    Unicamente?
    Não basta tal.
    Cumpre ser boa,
    Ser indulgente.
    Fiz-te algum mal?
    Pois bem: perdôa!

*O AMOR DO VERMELHO*

(Nevrose d'um Lord.)

A idéa de teu corpo branco amado,
Belleza esculptural e triumphante,
Persegue-me, mulher, a todo o instante,
--Como o assassino o sangue derramado!

Quando teu corpo pallido, e brijado,
Abandonas ao leito--palpitante,
Quem jámais comtemplou em noute amante,
Tentação mais cruel, tom mais nevado?!

No emtanto--duro, excentrico desejo!
--Quisera as vezes que a dormir te vejo
Tranquilla, branca, inerme, unida a mim....

Spleen

Quando o cinzento ceu, como pesada tampa,
Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta,
E a sua fria cor sobre a terra se estampa,
O dia transformado em noite pardacenta;

Quando se muda a terra em húmida enxovia
D'onde a Esperança, qual morcego espavorido,
Foge, roçando ao muro a sua asa sombria,
Com a cabeça a dar no tecto apodrecido;

Quando a chuva, caíndo a cântaros, parece
D'uma prisão enorme os sinistros varões,
E em nossa mente em frebre a aranha fia e tece,
Com paciente labor, fantásticas visões,

_MORS LIBERATRIX_

 

Na tua mão, sombrio cavalleiro,
Cavalleiro vestido de armas prêtas,
Brilha uma espada, feita de comêtas,
Que rasga a escuridão, como um luzeiro.

Caminhas no teu curso aventureiro,
Todo involto na noite que projectas...
Só o gladio de luz com fulvas bétas
Emerge do sinistro nevoeiro.

--«Se esta espada que empunho é coruscante,
(Responde o negro cavalleiro-andante)
É porque esta é a espada da Verdade.

Firo, mas salvo... Prostro e desbarato,
Mas consólo... Subverto, mas resgato...
E, sendo a Morte, sou a Liberdade.»

Mamã

    Toda a Paz, todo o Amor, toda a Bondade,
    Toda a Ternura que de ti me vêm,
    Amparam-me esta triste mocidade
    Como nos tempos em que tinha Mãe.

    Quanto eu te devo! Odios, impiedade,
    Indignações e raivas contra alguem,
    Loucuras de rapaz, tedios, vaidade,
    Tudo isso perdi--e ainda bem!

    Salvaste-me! Trouxeste-me a Esperança!
    Nunca m'a tires não, linda criança,
    (Linda e tão boa não o farás, talvez!)

O mar que embala, ás noites, o teu somno

    O mar que embala, ás noites, o teu somno
    É o mesmo, flor! que á noite embala o meu.
    Mas em vão canta a minha ama do Outomno,
    Pois pouco dorme quem muito soffreu.

    Mas tu feliz qual rainha sobre o throno,
    Dormes e sonhas... no que, bem sei eu!
    O teu cabello solto ao abandono,
    As mãos erguidas de fallar ao céo...

    Feliz! feliz de ti, doce Constança!
    Reza por mim, na tua voz chymerica,
    Uma Avè-Maria de Esperança!

O lagarto está chorando

 

O lagarto está chorando 
A lagarta está chorando 

O lagarto e a lagarta 
Com aventaizinhos brancos 

Hão perdido sem querer 
Seu anel de casamento 

Ai! Seu anelzinho de chumbo, 
Ai, seu anelzinho chumbado 

Um céu grande e sem gente 
Monta em seu globo aos pássaros 

O sol, capitão redondo 
Leva um colete de raso 

Olhem que velhos são! 
Que velhos são os lagartos! 

Ai como choram e choram, 
Ai! Ai! Como estão chorando!

 

 

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