Geral

A JUSTINO DE MONTALVÃO

    Em St. Maurice (aqui perto) ha um convento
    De Franciscanos. Fui-me lá ha dias.
    Quando eu entrei, tocava a Avè-Marias.
    Iam ceiar. Fóra mugia o vento.

    Um pallido Christo, ao fundo da sala,
    Espalha em redor seu alvo clarão;
    E, quando se reflecte a Cruz pelo chão,
    Os frades ingenuos não ousam pisal-a.

    «Meu irmão...» disseram, ao verem-me á porta.
    Vontade, Senhor, tive eu de chorar!
    Tão só me sentia, pela noite morta...

QUANDO AS ANDORINHAS PARTIAM...

_A Cassianno Neves_

Bocca talhada em milagrosas linhas,
A luz augmenta com o seu falar.

Esta manhã um bando de andorinhas
Ia-se embora, atravessava o mar.

Chegou-lhes ás alturas, pela aragem,
Um adeus suave que ella lhes dissera,

--E suspenderam todas a viagem,
Julgando que voltára a primavera...

N'UM CONVENTO

Como a agua em funda gruta
    Gotta a gotta filtra e cái,
    Sem saber quem isso escuta
    O que lá por dentro vai:

    Como ao longe incerta e baça
    N'uma igreja alveja a luz,
    Que da lampada esvoaça
    E a vidraça reproduz:

    Mal te vi, moira encantada!
    Mas á luz dos olhos teus
    Murcha a lampada sagrada
    D'um altar do nosso Deus.

    Mal te ouvi, mas as suaves
    Melodias, que te ouvi,
    São mais dôces que as das aves
    Da aldêa onde nasci!

*DEBAIXO D'UMA JANELLA*

A Batalha Reis

FAUSTO E MEPHISTOPHELES

FAUSTO

Nas noutes brancas de lua
É que se abrem as janellas!
Vem vêr meus olhos escuros
A sementeira d'estrellas!

Quem me dera a mim que fosse
Para te poder fallar,
O teu peito uma janella
E o meu amor o luar!

Uma voz (_cantando dentro_)

As estrellas mais brilhantes,
Entre as outras as primeiras,
São os prantos de Maria
E o suor das Oliveiras.

MEPHISTOPHELES (_cantando n'uma guitarra_)

A MEU IRMÃO AUGUSTO

    Léman azul, que, mudo e morto, jazes.
    Quanto és feliz! assim podesse eu sel-o!
    Nem a sombra dos montes, nem seu gêlo,
    De turvar tuas agoas são capazes.

    Minhas cartas inuteis de doutor
    Eu rasgaria, é certo, com prazer,
    Se eu podesse um dia vir a ser
    Dessas ondas, um simples pescador.

    Léman azul, nas agoas socegadas,
    Quantas vidas tu levas confiadas!
    Pareces ver meu mal, e escarnecel-o!

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