Geral

Struggle for life

(A ALBERTO SILVA)

«Luctar, luctar!» dizeis-me vós. «A lucta
É inherente á propria natureza»,
Mas qual é a victoria absoluta
N'esta guerra sem treguas, sempre accesa!

Hája quem venha á barra, quem discuta
E me combata e dome esta incerteza.
Sinto a minha alma inerme, irresoluta,
Cheia de abatimento e de fraqueza.

Eu luctaria com denodo, sim,
Se á lucta visse um terminus, um fim;
Mas qual de vós que ha tanto batalhaes

Árvores do Alentejo

Ao Prof Guido Battelli

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Sua alteza real o pequenino infante

Sua alteza real o pequenino infante
Matou, d'um tiro só, dois gamos na carreira:
Um hymno mais ao céo, pois era a vez primeira
Que sua alteza vinha á diversão galante!

Ó vergontea gentil! quando um tropel distante
De subito acordar os echos da clareira
E uma preza cansada, em rolos de poeira,
Varada, a vossos pés, caír agonisante,

Acercai-vos então da pobre fera exangue
Que estrebuxa de dôr n'um mar de lama e sangue
Sem que um grito de dó nos corações acorde!

Raios não peço ao Criador do mundo

Raios não peço ao Criador do mundo,
Tormentas não suplico ao rei dos mares,
Vulcões à terra, furacões aos ares,
Negros monstros ao báratro profundo:

Não rogo ao deus do Amor, que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares,
E murche o teu semblante rubicundo:

Nada imploroem teu dano, ainda que os laços
Urdidos pela fé, com vil mudança
Fizeste, ingrata Nise, em mil pedaços:

*A PRIMAVERA*

De Julio Forni

Hãode dizer-me--Insensatos!
Que tenha novos amores,
Que brilham já outros soes,
De novo se abrem as flores
E é o tempo dos rouxinoes.

E dirão inda depois:
Que a primavera começa,
E andam aromas no ar,
Que nos sobem á cabeça,
Como um vinho singular.

E eu dir-lhes-hei: Que m'importa!
Faz frio, fechem-me a porta!
--Ella, o meu bem, meu abrigo,
Levou, desde que está morta,
A Primavera comsigo!

Meu casto lirio

    Meu casto lirio,
    Terno delirio,
    Gloria e martyrio
    Do meu amor!
    Amo-te como
    A haste o gomo,
    O labio o pomo
    E o olho a flôr.

    Se ao meu ouvido
    Sôa um rugido
    Do teu vestido,
    Que ouço roçar;
    Que som me vibra
    Não sei que fibra
    Que me equilibra
    A mim no ar!

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