A noite final
Autor: Joaquim Direitinho on Wednesday, 11 September 2019Penso na noite final
Ela parecia saída de uma fantasia cintilante
Montando um cavalo branco sem freios
Na minha direção um sorriso aberto
Penso na noite final
Ela parecia saída de uma fantasia cintilante
Montando um cavalo branco sem freios
Na minha direção um sorriso aberto
Violinos lacrimejam uma melodia alegre que sai das suas profundezas.
Cordas habilmente rasgadas por dedos ágeis, retalham o vazio.
O pássaro livre, na sua gaiola fechada, escuta sem entender aqueles sons feitos por pessoas estranhas.
Que antes só ouvia na meia-luz lamentar.
Continuando o seu afortunado saltar de baloiço em baloiço, na sua gaiola de um único vaivém.
Sinto-me tão arrasado
Deliciava-me um adormecer maçador
Onde o meu espírito se solidificasse
E escapasse da sujeição
Em que o meu cérebro o estipulou
Transfigurado da sua essência
Onde a claridade parou o seu girar em seu contorno
Velho moinho
Obra rústica de charme aconchegante
Engenho de sonhos,
Movidos a ventos
Entre as mós, eles vão girando
Transformando em suco
Os meus sentimentos
Velho moinho de versos
Hirto na aurora dos tempos
Sem alma, sem voz
Sem nada por dentro
O velho moinho
Que já foi feliz, está agora abandonado…
Fica a memória da dureza do grão
por tantos de nós superado
Junto aos grãos os condimentos
Raiva, amor, desencanto…
Perdidos no cenário campestre
Sombras
Meus olhos se encheram de emoção
Diante das águas tranquilas do rio
Um sorriso iluminado acompanhou o meu olhar
Por entre os orvalhos da saudade
Tu estavas lá, olhando o rio
Com teu ar sereno e misterioso
Rodopiavas em pensamentos ao som do barulho do vento
É quase outono, o sol já se esconde envergonhado
Por entre as folhagens das árvores que teimam em cair
Como um pescador de sonhos
Alimentas a alma nos reflexos das águas do rio
Meu coração é uma folha solta no ar
Setembro
Há um prenúncio de chuva
No perfume que a nuvem comprime
As folhas subtis das árvores
afagam suavemente o solo
pintando de cor a calçada
O vento do Norte
Mima com beijos suaves
As folhas que perderam a cor garrida
Num delírio enfraquecido do verão.
Ergue-se setembro
As estradas dos meus sonhos
Reabrem-se dentro de mim
O vento traz o fresco às madrugadas
A brisa baila por entre os campos
E eu sentada no banco do jardim
Doce quimera
Nesta vida efémera
Onde o vento silencia
E a lua prateada se transforma
A ilusão e a fé, dão sentido à minha vida
Doce quimera…
Por de trás de um sorriso, anunciaste a tua partida
Mas em que instante te deixei de ver?
Em que momento te reencontrei?
Não, não estás sobre a água
Não, não estás por entre as chamas
É o vento, o mar e o fogo que te sustentam
E se te quero ver, tenho que fugir das estrelas
Este aperto silencioso, é difícil de entender
Os poetas
Às vezes se apaixonam por musas
Silenciam, argumentam, discutem
Com a folha de papel e a caneta
No final do dia quando anoitece
Procuram a paz
E quando se encontram a sós com a alma
A poesia acontece!
Tiram dentro do peito a Emoção
Aspirando o aroma da poesia
Os versos que escrevem
Vêm de dentro do coração
As almas dos poetas
Não as entende ninguém
Escrever, é a sua terapia
Conjugam o verbo amar
Em perfeita harmonia
Mãos de poeta
Revelam cores de sentimentos
Constroem castelos sobre o mar
Imaginam um outro céu
Em horas incertas
Mãos de poeta
Têm o céu traçado na linha da vida
Mãos de ternura orvalhada
Que escrevem sobre o por do sol
E amanhecem frias quando surge a aurora
Mãos de poeta
Escrevem metáforas de um sonhar
Transformam montanhas
Num sublime verso
E em cada verso travam sementes
Que lançam em água límpida
Transformando as palavras num rio de prata