Meditação

Tudo o que posso dar...

Tudo o que posso dar...

 

Empurro a custo as palavras com a pena,

Na sentida dor de não mais as decorar...

Borrato de tinta o papel em noite amena,

Com a esperança de a ti poder chegar.

 

E nelas ponho sentimento tão profundo,

Que espelham bem no fundo do meu ser,

Tudo aquilo que mais anseio neste mundo,

A alegria imensa, intempestiva, de te ter.

 

E se for preciso emprestar de mim,

Para que a vida nos possa vir a sorrir,

Tudo e bem mais daquilo que posso dar...

 

Correrei atrás dos sonhos sempre assim,

Enquanto eles nos possam fazer sentir,

Que o amor pode estar prestes a chegar.

Solidão

 Solidão...

 

Não percas esse teu sorriso

Tão belo e contagiante...

Caminha através dele,

Para o mais longe e distante.

 

Sente-o como um perfume raro,

Serve-o como peça cristalina...

É com sorrisos tão belos,

Que o mundo se ilumina.

 

Não vás, não partas já,

Não quero que isso aconteça...

Logo virá a solidão,

E não quero que anoiteça.

HIPOTÉTICO

Mistura-se o real com o imaginário,
Extenso tapete desenrola-se na pista
E tudo o que se funde parece niilista
Perante um cotidiano consuetudinário.

O pensamento atrofia-se, parece ilógico,
Criam-se nuances que se mesclam sutis
Dentre raciocínios ininteligíveis e imbecis
Que se tocam e se viciam como o tóxico.

Este torpe cenário cada dia se agiganta
E a inverdade que nada tem de santa
Engana, distribuindo utópicos chocolates...

ESTRESSE

Percebo que o tempo aprisiona meus sonhos

E meu pensamento é refém de minha agonia,

Estou num cativeiro onde é a alma que alumia

A solidão encarcerada do mundo enfadonho.

 

Minha tela mental parece um rascunho sem giz,

Totalmente isenta de rabiscos que me fazem ser,

Vagueio num sono branco sem me reconhecer

E desperto num ambiente sem saber do que fiz.

 

O raciocínio é entravado num cosmos sem nada,

A consciência batalha para lembrar o pretérito,

Contudo mergulha num redemoinho frenético

CERTEZA DO VIVER

A ilusão dos imortais

Morre no mesmo instante

Em que o tempo enterra ideais

Para guardar em seus anais

O destino cruel das horas mansas.

 

Herdeiros? Onde estamos?

Onde não estamos? A vida

É um sepulcro talhado, é vulto,

Mas quando a sombra aparece

Envolta em retalhos de luz

Tem-se a certeza de que se vive

E doce é o néctar desta sensação.

AUTENTICAÇÃO

Eu me curvo diante deste imenso vazio,

Eu me turvo perante meu olhar arredio

Que me faz singrar hipóteses ao vento

E escalar o escuro sem ressentimento.

 

Eu me tosto pelo sol da manhã cinzenta,

Eu me enrosco onde a saudade se assenta

Dissertando a lápis na solidão que maltrata

O escape felino do beijo cítrico da mulata.

 

Eu me lavo das barbáries do sonho tímido

E me cravo os pregos que me deixam lívido

Sob o calor que apetece o brilho da estrela...

 

INCENSO

Agora cai a água das nuvens,

O solo árido é o cálice que a recebe,

A terra seca então se depura

E sementes alimentam a verve.

 

Bebe-se da umidade um aroma em flor

E em taça de cristal o mel da redenção

Que mitiga a sede e a sacia a fome

Dum mundo que sofre estiagem no coração.

 

No chão fulvo surgem os primeiros brotos

E no augúrio das mentes varre-se o lodo

Da infertilidade que sentenciou os campos...

 

Tempos novos... Há nas árvores o incenso

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