a malvadez fabrica os anzóis da humana condição para depois se enraizar nas nossas vidas; nos patamares álgidos das nossas turbações; nas futilidades que rodeiam os nossos antagonismos; nos dilemas que sustentam os nossos ódios exacerbados.
deixo que as minhas palavras obstruam as guerrilhas torpes que descambam no sofrimento; deixo que elas aplaquem os transtornos correntes para que eu possa legar aos outros a pureza das minhas meditações.
a paisagem que vislumbro produz os meus desarranjos emocionais; os malbaratados talentos na orla dos meus insucessos; as farpas que inscrevo na minha poesia; as palavras desafáveis que modelam a minha compleição.
inebrio-me com a poesia que espairece os meus sintomas desequilibrados; que desentrelaça os fios de saliva que me prendem às afligidas lembranças; que transporta toda a casta de flores odoradas pelo meu guarnecido presente.
desenrolo noções que se expandem pelas grutas do saber até inflarem de consolação; até persistirem nos exemplos que derivam das minhas crenças e dos meus méritos; até verterem a minha existência num paraíso abrangente.
a névoa atesta o nosso quotidiano quando os impropérios nos martirizam; quando a mentira se implanta no cerne das nossas desilusões; quando os discursos ultrapassados nos forçam a retroagir ao pedestal da agonia.
espalho as divergências no patamar da iniquidade quando elas molestam a minha vida; quando elas excitam os sintomas irascíveis do meu temperamento; quando elas retardam o exercício da minha sabedoria.
Sou espelho de imagens desiguais.
Estou atrelado a indagações que nem sempre procedem.
Aflijo-me diante da árdua tarefa de enumerar as estrelas de um céu transitório.
Muitas vezes, perco-me em suposições que desconheço.
Faço forte todo clamor por dias melhores.
E, antes de julgar, procrastino toda a questão, para precaver-me do engano.
instalo as minhas danças frenéticas no camarote da solidão; no âmbito duma existência acidentada; no desdobrar das imperfeições que me fizeram enlouquecer; na terminologia das fúteis desavenças.
enxuguei as lágrimas para escrever a minha poesia; para que o temor não perturbasse o desenredo das minhas angústias; para que a roda-viva dos instintos se quedasse nos antípodas duma existência pacífica.