Meditação

Perdoar

       PERDOAR

 

 Grande é a palavra perdoar.

Esquecida - a ofensa vai ficar.

Submissão? talvez  sabedoria.

Na sua prática e não na  teoria

Pela cultura que nos foi dada

Por legado? – formação eu diria!

 

Grande é a palavra odiar - o oposto!

Uma das faces do mesmo rosto,

na mesma moeda, representadas

O ÓCIO

* _* _ *

Hoje,
Sentei-me à espera
Que o tempo passasse.

E esse rude tempo
(Que desde sempre nos foge),
Acabou mesmo por escapar.

Amanhã,
Talvez me volte a sentar
Para dar novas asas
Às vãs expectativas.

Sendo tão humano
Como qualquer outra pessoa,
Tenho o direito de cultivar
A minha ociosidade!

02.08.2011, Henricabilio

RECORDANDO

Naquela viela estreita, gentios horrores

Um bafo quente, de estranhos odores

Com nome esquisito Rua das Atafonas

Tabernas esconças, cheiros e  sabores

Putas, encostadas, em porta carcomida

Gastas pelo tempo, escadas da má vida!

 

Vendem o corpo mal nutrido,desajeitado

De mamas caídas suportadas em trapos

Pernas ao léu, varizes azuis aos esses desenhadas

Questionamentos

Voo por mundos fora,

Há procura do meu lugar.

Não há maior demora,

Que a de nos encontrar.

 

Às vezes chove sobre nós,

Molha-se o nosso olhar.

Às vezes cala-se a voz,

Que nos costumava chamar.

 

Tentamos ser heróis,

Mas somos simples mortais.

Não pensamos no depois,

E o tempo não recua, jamais.

Abstrato

Descobrir-te;
na pluralidade,
uma sucinta definição do meu eu,
atreladas com perfeição
um consentimento,
meu âmago a lidar
entretecendo em minha alma ,
volver-se, o passado,
o vigente,
ou a contemporaneidade,
as vezes tão absorto da realidade,
manifestando o senso,

Intermitências de Março

INTERMITÊNCIAS DE MARÇO

Pela vidraça, imperceptíveis sons de rua
Amornam o sol de março que atravessa a minha desolação…
E há lugar a intermitências amarelas tatuadas na parede nua…

A cal do meu cativeiro aninha-se ao colo de Mozart…

Lá longe, o mar traduz a desesperança de um povo solitário
Em batidas de maré menor.

E na luz tremente de um dia aspirado
Fluem ásperos anseios a coroar nuvens
Silêncios de dor
Ao entardecer…

Inquietação

Há na minha inquietação
Um lugar só teu
Que não pode ser ocupado
Nem restar vago

Lugar imaginário
De uma realidade crua
Desperto quando
No turvo das noites
O teu nome vem soprado no vento

E eu
Perdido... na madrugada
Vagueando na cidade dos anjos
Envolto numa penumbra luminosa
De onde emerges...
Apenas... para me abraçar...
Assim...

O CIPRESTE QUE SE ERGUE NO PÁTIO

O cipreste que se ergue no pátio

Na calma neblina da manhã

Dita em arrogância e coragem

A vida que lhe sobra por entre

A seiva, a corrente e a vagem

 

Iniciáticas todas as imagens

Destes elementos imutáveis de real

Nós é que sobramos da paisagem

E nos esfumamos breves no coral

Na praia, na planície e no areal

 

Ficam os nossos objectos, os resquícios

Reais de nós, como rastos de lava

Pedaços de vida, rastos de caracol

E a carne quente e astral do que somos

Pages