Natureza

Iceberg

Rabisco um poema

E escrevo no próprio coração

Sinto que escrever é como estar despida

Em alto mar ou numa constelação

Procuro a parte submersa

Do meu iceberg interior

Esse pedaço de alma esquecido no mar

Lapida-se na água

Como joia deixada no sepulcro.

As fagulhas das arestas brancas

Competem com as do sol

E com os sonhos de cristais

Da sereia triste

O firmamento perfuma-se de estrelas

E as nuvens correm por um céu mais cálido

O meu iceberg sobe

Mas afunda-se de novo

Flor de lótus

Flor formosa

singela e deslumbrante

Inspiração divina

Símbolo de espiritualidade e pureza

Teu perfume é a essência do amor

Perfeição, sabedoria e paz

Bela Flor que emerge em sujas águas

Águas turvas e estagnadas

Tua raiz está na lama,

Teu caule na água e tua flor ao sol

Tuas oito pétalas

São o símbolo da harmonia cósmica

És história, poesia e vida

Flor imaculada que desabrocha sobre a água

em busca de luz

Flor sagrada para os povos do oriente

Flor que estás tão perto de mim

Dezembro

O vento espalha as folhas pelo chão

O sol desmaia com frieza

Chegou dezembro

Um manto branco

Cobre a terra, os campos, os vales

As ruas enchem-se de luz

Cor, vida e alegria

Terna mutação da natureza

Onde o amor e a amizade

 se encontram em poesia

O rosto dos transeuntes

Que se deslocam pelas ruas iluminadas

Recebe o beijo frio da estação

Soam cânticos na cúpula

É tempo de lembrar aquele menino

Que sorria nas palhinhas

Iluminado pelo olhar doce de Maria

Campo de papoilas

Enquanto meu pensamento vagueia

Percorro os campos descalça

Por entre o vermelho vivo das papoilas

A brisa toca-me e faz-me balançar

Por entre a cor e as flores

Ahh como me sinto poema!

As papoilas vermelhas

Com suas pétalas sedosas e finas

Entrelaçam meu cabelo e dançam

Ao vento nos teus olhos.

Sinto-me feliz como uma criança

Que chora de alegria num jardim

De Flores rubras de amor

Desfolhadas em poesia.

 

Compassos do vento!

 

Supremo encanto no trigal...

Beija-flor

Da janela do meu quarto

Avisto um Beija-flor

A trocar carinhos com a mais linda flor

Tanta ternura e suavidade

Que bela expressão de amor

Farfalha as suas asas

Dança sob a página de vida

Alimentando-se da singela flor

Apaixona-se pelo seu néctar

Enfrenta tudo, não teme a dor

Beija-flor com suas asas

Dança ao som duma suave melodia

Com a sua amada flor

Meu Deus, quanta beleza

Deste voraz conquistador

Ao proteger a flor amada

Com tanta delicadeza

Tanta ternura e amor.

Arco-íris

O arco-íris da minha alma

Ecoa um grito

Em suaves caricias de cores

No horizonte sente-se o calor

Envolto em gotículas de chuva

Borboletas ajudam a enfeitar o Céu

E se exibem em suas cores cintilantes

A poesia em mim

Necessita ter a imensidão nos olhos

E o arco-íris perfumado na alma

Num voo intenso e destemido da fantasia

Curvo-me para o solo

Em busca da esperança perdida

Mas meus sentimentos

Não rimam em terra húmida

Reconheço a dimensão da luz

Deste universo multicolor

O ilegal de Lisboa

Tens nome talvez de beto,
És filho bastardo da mais bela das mulheres,
Vives a cultura das culturas das variadíssimas culturas portuguesas mesmo muito para lá de Camões.
És o restaurante chinês ilegal,
És aquela loja onde talvez possamos a vida.
 
És o talvez eterno ilegal de Lisboa,
Que alguém nomeou terra de alguém,
Vives de uma beleza sem Belém,
Até ao dia em que o homem aí já voa.
 
És tu a terra que nunca se apregoa,

BANDO

Num chorrilho de andorinhas

Não interessa o temporal!

Vão voando:

Naquele vento de redemoinho!

Cantando:

Num pio ocasional!

Como estas linhas:

vestidas de negro e brilho!

Em bando:

No tempo ou caminho?

Qual vendaval!

Num chorrilho:

Passando!

Em bando

As andorinhas.

Outro Dia

Era uma vez uma Fada,

Corria atrás das poças para não pegar fogo às asas,

Ironicamente já lera sobre escamas,

Mas recusava fielmente olhar para qualquer gota de água que não se limitasse a passar por baixo,

Amava as flores como filosofia,

Sem ponto… ponto!

 

O poeta anotava.

 

Ela rodopiava em arco-íris pela vida que nunca rezou por sequer começar a imaginar viver, sublime,

AS BARRAGENS

AS BARRAGENS

Em pouco tempo de nascença, a gatinhar pelos campos da minha aldeia – Bismula (Sabugal) -, acompanhado pelos meus Pais, iniciei os primeiros contactos com barragens (armazenamento de águas), sem no entanto as saber localizar ou nomear.

A minha aldeia é cercada por duas ribeiras, a Ribeira da Nave, na fronteira com terrenos de Ruivós, e a Ribeira do Pereiro, caudal vindo de Alfaiates. Ambas vão desaguar ao Rio Côa, não muito longe de Badamalos.

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