Natureza

O ilegal de Lisboa

Tens nome talvez de beto,
És filho bastardo da mais bela das mulheres,
Vives a cultura das culturas das variadíssimas culturas portuguesas mesmo muito para lá de Camões.
És o restaurante chinês ilegal,
És aquela loja onde talvez possamos a vida.
 
És o talvez eterno ilegal de Lisboa,
Que alguém nomeou terra de alguém,
Vives de uma beleza sem Belém,
Até ao dia em que o homem aí já voa.
 
És tu a terra que nunca se apregoa,

BANDO

Num chorrilho de andorinhas

Não interessa o temporal!

Vão voando:

Naquele vento de redemoinho!

Cantando:

Num pio ocasional!

Como estas linhas:

vestidas de negro e brilho!

Em bando:

No tempo ou caminho?

Qual vendaval!

Num chorrilho:

Passando!

Em bando

As andorinhas.

Outro Dia

Era uma vez uma Fada,

Corria atrás das poças para não pegar fogo às asas,

Ironicamente já lera sobre escamas,

Mas recusava fielmente olhar para qualquer gota de água que não se limitasse a passar por baixo,

Amava as flores como filosofia,

Sem ponto… ponto!

 

O poeta anotava.

 

Ela rodopiava em arco-íris pela vida que nunca rezou por sequer começar a imaginar viver, sublime,

AS BARRAGENS

AS BARRAGENS

Em pouco tempo de nascença, a gatinhar pelos campos da minha aldeia – Bismula (Sabugal) -, acompanhado pelos meus Pais, iniciei os primeiros contactos com barragens (armazenamento de águas), sem no entanto as saber localizar ou nomear.

A minha aldeia é cercada por duas ribeiras, a Ribeira da Nave, na fronteira com terrenos de Ruivós, e a Ribeira do Pereiro, caudal vindo de Alfaiates. Ambas vão desaguar ao Rio Côa, não muito longe de Badamalos.

Balfusca (Floresta Encantada)

Balfusca (Floresta Encantada)

Parece que já vivi duas vidas muito diferentes, a do campo e a da cidade, a de miúdo e a de adulto.

Lembro-me da primeira, ainda consigo ver os pequenos caminhos que nos levavam aos ribeiros, aos poços, às searas e às florestas.

A casa da minha avó ficava junto a um ribeiro e a uma pequena floresta. Podia pescar pequenos peixes, enguias e por vezes solhas de água doce, podia nadar, mergulhar de cima de uma nespereira e caminhar na rua dos buchos.

Celeste

Quero estar lá. Na profunda imensidão de suas formas. Vejo e as compreendo. Suas linhas paralelas. Linhas que percorrem seu desenho natural, ao alto de sua colina, ao finito horizonte. Demonstrando seu próprio nascer. Lá posso ver os pássaros, eles voam por lá. Lá posso ouvi-los, eles cantam por lá. Não sentem temor, ajudam a fazê-lo. Faz jus a calmaria, admirada por minha compreensão. Quero estar lá. Não é cálido onde está. É pouco e pouco célebre. Seu firmamento azul, e nunca volúvel. Da cor da neve estará quando o inverno tomar. Gosto assim. Seu frio também aquece.

Celeste

Quero estar lá. Na profunda imensidão de suas formas. Vejo e as compreendo. Suas linhas paralelas. Linhas que percorrem seu desenho natural, ao alto de sua colina, ao finito horizonte. Demonstrando seu próprio nascer. Lá posso ver os pássaros, eles voam por lá. Lá posso ouvi-los, eles cantam por lá. Não sentem temor, ajudam a fazê-lo. Faz jus a calmaria, admirada por minha compreensão. Quero estar lá. Não é cálido onde está. É pouco e pouco célebre. Seu firmamento azul, e nunca volúvel. Da cor da neve estará quando o inverno tomar. Gosto assim. Seu frio também aquece.

Laranjeira

São dez lâminas a apontar. São dez braços bronzeados a me levantar. São paredes esponjosas salpicadas de cor, terminadas ao fim em cambiantes mais maracujádos, num anel cingido por sobriedade. E depois dele, a brancura adentra faz-se tão virgem quanto terra que não desvirginou. E sou eu o escolhido a sacrifício. Caminhos, mundos, estórias incluídas sob meu rosto inchado na aparência da gota que cintila à plenitude da luz granulada pelas águas frias nas ondulações do horizonte, que dá vontade de brincar bicicleta, ao lado da folhinha caída; quebradiça nas arteriosas.

Deitado no chão de palha - 2

Deitado no chão de palha

É bom sentir o mundo, gostava de o abraçar inteiro de uma só vez.

Como não posso, tenho que abraçar uma pedra de cada vez... olhá-las com calma, uma por uma, pois todas elas são diferentes e também são vida, tenho que ver o mundo um pouco de cada vez.

Comer melancias, pêssegos de agosto, ameixas, peras doces, beber a água fresca das fontes, trepar árvores antigas de olhos fechados, agarrar os varões das pontes e mergulhar lá do alto para confirmar se os peixes ainda se escondem nas mesmas tocas das paredes de pedra do rio.

Luar de Janeiro - 2

Luar de Janeiro - 2

Gosto de ver a noite nos meses de janeiro.

Quando era pequeno caminhava nas florestas por cima das folhas, subia veredas para chegar mais alto, acreditava que subindo mais e mais podia ver de perto as constelações e as estrelas cadentes.

Nessas veredas os mochos galegos ocupavam os seus habituais poleiros para anunciarem o luar de janeiro. Quando a lua mostrava todo o seu esplendor tudo parecia irreal.

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