Pensamento

Veredas

...O trambolho que é sermos,
que é fazer subsistir esta vida!...
Percorremos nosso caminho
sempre aos círculos, às voltas,
sem achar um princípio ou um fim
(Como é próprio do andar à roda).
Vagueamos ébrios, zonzos,
tentando enveredar no caminho
que nos aconselham seguir.
E nós lá vamos, como ovelhas
num rebanho, às apalpadelas,
a tactear o escuro do desconhecido,
Indo contra as paredes,
a tabelar de uma para outra
qual bola de ping pong...
Zombies esbarrando nos

Moldagem

Tanto medo a gente tem
de se expor tal como é...
Escondemos da nossa mãe
aquele "eu" de cabaré
que não se mostra a ninguém.

Ocultamos dos amigos
nossos desejos mais sórdidos.
Conservamos em jazigos
quaisquer devaneios mórbidos
que os outros achem perigos.

E reprimem-se as ideias
como quem encolhe um peido
co'a força de panaceias.
É melhor ficar retido
com receio às diarreias.

Saudosismo

A saudade...
Ai a saudade!

A saudade
é o denominador comum
das nossas vidas.

Divide, repetidamente,
nossas memórias boas
e más...
Esbate-as e transforma-as,
tornado-lhes os contornos difusos
até não se distinguir já o certo
do não certo.

Tende a fazer-nos esquecer
o mau
e a amplificar o bom.
E eu não sei porque razão!,
Se é o mau, ou menos bom,
que em nossas vidas predomina,
sobretudo.

Distraidamente

Distraidamente

 

 

Sangue frio abundante

Mon coeur chei’ d’espumante.

A ânsia à flor da pele

A calma e a paz repele.

 

Sentado em estranho Café

Co’a alma de crista em pé

Passeio em jardins mentais…

 

Deslizar suavemente

Por um gigantesco fato

De pétalas e lume…

Apenas morno, acariciante.

 

Abstrair…

Abstrair-me de uma forma franca,

Sincera.

 

Abstracção crua, infinita, verosímil,

Espantosa até ao colapso.

SOU O HOMEM!

Sou o homem!

 

Sou o mundo,

Vida e morte,

O hoje e o amanhã!

O passado e o futuro

Os sonhos e a razão!

O pensamento e a ilusão,

O sul e o norte!

Da alma o profundo

O sentir prematuro

Do fogo da paixão,

Belo, irresoluto, traquino!

 

Em mim se condensam

Os mistérios do mundo

Do amor e da solidão!

Há um caminho profundo

D’além do horizonte,

Da sua linha imóvel

E irrefutável

Que atrai as vontades

Descobre as verdades

O silêncio do silêncio

A escuridão dissolve as paredes brancas
há silêncio no silêncio
onde as minhas mãos anseiam a ausência de gestos rotineiros.
Encosto-me e deixo-me deslizar até ao chão frio,
abandonando a pressão quotidiana.
Não quero vozes que me interrompam,
nem memórias de gente a rodear-me.
Somente o silêncio do silêncio onde me construo e sou.

Os Pasarinhos

Eu acordo preguiçoso

E os passarinhos estão cantando na árvore do vizinho.

 

Eu levanto sem vontade

E os passarinhos estão cantando na árvore do vizinho.

 

Meu dia corre violentamente

Entre coisas a fazer,

Desejos a conquistar,

Metas a cumprir…

Pensamento, ação, suor!

 

E, a zombar de mim;

A zombar de minha pressa;

Sempre que eu paro um instante

Ouço a algazarra

Dos passarinhos cantando na árvore do vizinho.

O Óbvio

Vós sereis o óbvio.

E, por assim serdes, sereis o mais invisível dos fatos,

A constatação última.

 

Vós sereis o óbvio.

Vossa aparição estarrecerá sempre o mundo.

A ciência sempre chegará a vós pelos caminhos mais tortuosos;

A imprensa sempre espantar-se-á ao deparar-se convosco;

Sereis sempre a conclusão das mais variadas pesquisas.

 

Vós sereis o óbvio.

E nunca deixareis de ser espantoso.

Sereis sempre o desafio às inteligências,

O desdém das genialidades.

 

Vós sereis o óbvio.

Gotas que Caem

“A chuva cai nesta noite,

Molha meu rosto,

Refresca minha vida....

A chuva cai nesta hora,

Gostas refrescantes,

Gotas de amor,

Gotas da vida...

Vidas que descem do céu,

Vidas que dão vida,

Gotas que dão vida,

Terra molhada a cada instante...

Chão de lágrimas,

Chão molhado,

Lágrimas que correm do rosto,

Lágrimas de vida...

Rios de lágrimas,

Veias de lágrimas,

Quando rolam,

Rolam, rolam, rolam,

Rolam com vidas,

Rolam com amor,

...

Comunicar é sempre um desafio! Às vezes, precisamos usar métodos diferentes para alcançar certos resultados. Por quê? Porque a bondade que nunca repreende não é bondade: é passividade. Porque a paciência que nunca se esgota não é paciência: é subserviência.

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