-escrevo insolitamente
como um tradutor de pergaminhos
-escrevo feito um sobrevivente
de mares virulentos
-escrevo como um artesão
que modela metáforas e devaneios
-escrevo como se cavasse túneis
em rochas indevassáveis
Tudo é começar, tristeza no superar.
Que vida. Este estranho estar,
ser fé em todo acreditar.
Longe em longevidade,
infância mocidade, tudo parou no SER!
Hoje apenas quero continuar a viver.
Fé, distância no destinar.
Amor, a verdade do estar.
Deus o caminho para continuar.
No ser tudo, parar de procurar!
Vida é viver,
fé, o ter de continuar.
No sem nada pedir ou esperar.
para colher, temos de plantar!
E a vida segue
incógnita
é a realidade imaginada
da qual
só se sabe o sonho
ainda que não se viva
dentro de uma concha
indevassável
como um caracol
Podemos sempre escolher o "acreditar"
cá entre nós
que haverá além de tudo
senão
uma ampla vacuidade?
ao se pensar
tudo se concretiza no ato
nada se efetiva
sem prévia elaboração
como se no manto
do solo revolto
a semente confirmasse
sua posteridade
sei do paradeiro das palavras
sei de sua cerne
e de seu desvario
ao consolidar os versos
nas entrelinhas
escrevo à revelia
de um explícito sentido
para que sobressaia apenas
a verve peremptória
que se encaminha
1.
vida não é abismo
que se queira soterrar
é extensa raiz
de fôlego irrestrito
que vigora em profundezas
2.
vida não é meio-termo
que se queira mediar
é certeza de brisa
eloquente
que aciona moinhos de vento
3.
vida não é retiro
para minúcias desfeitas
é resoluta abrangência
que se sobressai
no ressoar de silêncios
não me apego
ao que não existe
seja som
seja forma
seja cor
seja qualquer atributo
esvaído do fogo morto
somente ao lídimo
consiste a certeza
da cinza acomodada
(que meus sentidos
validam)
-vento que se reafirma
após se dispersar
