Prosa Poética

Deixa o sonho...

E se deixássemos
 
os sonhos
 
nos invadir sem opção sequer
 
de contornar os destinos
 
com data marcada para molestar
 
antecipadamente
 
o que resta da ausência
 
no fim de cada sílaba modulada
 
pelos ponteiros do tempo que cessa.
 
 
E se deixássemos
 
que a tarde nos procure
 

Infinitamente

Aprendi com o tempo
 
a domesticar minha audácia
 
com sentido de vida
 
minha fúria confundida
 
no limiar da razão derradeira
 
 
Aprendi com a vida
 
como soletrar os dissabores
 
que o tempo impregna a alma
 
sem nunca ressarcir de poesia
 
todos os apelos que sustento
 
e domestico
 

Quando eu me for...

Quando eu me for
 
por aí
 
desalinhado nesta plateia
 
que espreita sorrateiramente
 
entre as cortinas veladas
 
da solidão
 
saberei assim quão benevolente
 
é este abrigo onde alicerçamos
 
toda a poesia que escreveremos
 
na lápide do tempo
 
 
Quantas recordações deixámos
 

Dormindo com as estrelas

É diferente
 
a minha solidão, dos outros
 
é vulgar  minha tristeza
 
pregada na ensurdecedora
 
aurora que desponta
 
saltitando emocionada
 
entre dois cálices
 
repletos de desassossego
 
 
E assim nasce um mundo novo
 
onde cada instante se faz poesia
 
e cada eternidade uma avassaladora
 

Frágil

Exalou daqui
 
minha áurea insegura
 
até aos confins do mundo
 
onde deleito
 
meus olhos e te contemplo
 
ávido às mãos sublimes
 
do Grande Criador
 
 
Ressarciste-me a solidão
 
redesenhaste-me
 
as órbitas dos seres graciosos
 
que vagueiam pela meiga noite
 
imaginando-te formosa

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