Prosa Poética

Água viva

A água triste
 
cai velando o ser
 
já sem luz em lenta
 
combustão
 
por ver morrer-me o coração
 
e ninguém aqui tão perto
 
chegou empunhando
 
o estandarte onde narro
 
cada viagem por tantos oceanos
 
navegados
 
mil outras memórias em cada
 
olhar agasalhado
 

Negro canto

Saíu meu negro canto
 
no segredo
 
de um nome sem eco
 
com seu sorriso pronto
 
a contornar meu tédio na
 
quietude caudalosa
 
de tanta formosura
 
como teu sorrido desperto
 
assim me cerca gentil
 
abraça e encoberta
 
 
 
O olhar
 
olha-me então nublado
 

Faz de conta...

Sei que não houve nenhum erro,
 
nenhum desacerto,
 
e agora nem dei conta que
 
ainda tudo ou nada recomeçou,
 
como o sol assim nasceu,
 
e nunca mais além se pôs
 
assim a lua por fim seus raios
 
contornou
 
em memoráveis lampejos
 
desta incalculável luminosidade
 
que te afaga e inebria
 

Retratos do silêncio

- Cede-me a lua nocturna
 
implora-me quantas vezes
 
o eco da leda e fragrante
 
madrugada
 
tão breve assim enamorada
 
se anunciar
 
 
 
– E caso eu pudesse
 
imaginar no presságio do teu olhar
 
cada feliz encontro que o amor
 
em si deixa abreviar
 
ficava aqui
 

Tempo esquecido

Como triste marinheiro
 
nas vagas ondulantes
 
à bolina navego
 
sem tempo,no tempo
 
de em cada oceano por  ti
 
deixar sempre a amor navegar
 
 
 
– No tempo esquecido
 
teus rubros lábios deixarão
 
pra sempre impressos
 
os beijos que ficaram perdidos
 
em delirios calados na
 

Olhos nos olhos

Olhos nos olhos
 
rodeio tuas simetrias
 
buscando outras respostas
 
sobre tantas duvidas,
 
em lágrima caídas
 
nas acrobacias do teu olhar
 
que se faz luz e minha terapia
 
 
– Sabes,
 
é somente o fruto de
 
um sentimento que trago comigo,
 
onde albergo as sinfonias do mundo
 

Vindima da vida

Bebo hoje mais um copo
 
de vida...
 
seja frutífera ela e generosa
 
da mais selecta reserva bendita
 
e embora compelido e deambulando
 
na textura elegante de cada lamento
 
com ela me reencontro
 
assim de improviso
 
por ela assim ávido me convido
 
mas,
 
não deixo que me embebede mais
 

Serenidade

Compartilhamos por vezes
 
um sorrido doce
 
inimaginável
 
com lágrimas perdidas no convés
 
das memórias lembradas com fervor
 
onde por fim me abrigo
 
no convívio selecto dos amores
 
sem mais deixar vestígios
 
para a eternidade
 
sem mais morrer
 
porque a vida feliz
 
derradeiramente apetece

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