Prosa Poética

Passagem do tempo

Passagem do tempo
 
É apenas assim
quando estou a salvo
que me descubro e me guardo
eu tudo cobro
por um punhado de silêncios
enfim me modelo e até
de certo modo
eu dou tudo o que sou,
gradualmente
eu dito delicadamente a fé em minha poesia
neste imenso mar que jaz em agonia
onde tudo ali fica escrito num manuscrito
que por cortesia
de um ouvido atento

Metamorfose ao acordar

Metamorfose ao acordar

 

 

Vem conhecer um ser confuso

Que rasga folhas á longos anos

E que por mais que escreva nunca se sacia

Busco palavras nas avenidas do mundo

Busco palavras no meu poço fundo

Não sou o que esperaram de mim

Não serei o que sempre quis ser

Não tenho espaço, nem tempo

Para mudar o que sempre quis ser

Os defeitos que tenho ... já não são defeitos

São apenas o que sou

Perdoem-me por ser confuso e ter procurado toda a vida

Idade pra ser feliz

Idade pra ser feliz
 
Marcam-se as épocas
definem-se as eras
atravessamos desertos imensos na vida
planeando na fase da idade dourada
o ser que somos
apaixonadamente íntegros
reverenc iando os prazeres castos
sem preconceitos adquiridos,
apenas iluminando nossas
semelhanças entregues aos sabores 
de todos os amores 
sem cobardias nem pudores;
Estamos na idade de ser felizes

Ebrio no quotidiano

Ébrio no quotidiano

 

 

 

Eu não tenho poesia em mim

Ainda hoje , quando passeava o pensamento

Senti os olhos de um paraplégico , cravados em mim

Eram corroídos , doridos , vagos

Por um triste destino sem piedade !!!

( que pensaria quando me fitou ?! )

 

A esposa empurrava lentamente , a cadeira

Dos medos , dos receios e incertezas

Trazia na alma clínicas incapazes

E ecos de vozes sábias

Prelúdio

Prelúdio
 
Dizem-me eles que estou parado no tempo
errado e mais que desamparado
que tenho somente que esperar um pouco mais 
para que o homem certo 
se renove e ouse chegar
todo por inteiro ao topo do mundo 
aquele que é valente 
o bastante para conquistar todo o isotopo
que eclode no prelúdio da poesia desdita
e perdida no núcleo de uma vida
que nunca se molesta
pois é nobre e nunca se contesta

Ventos e marés

Nos ventos e marés
 
Saio por aí navegando por esses rios
meu Tejo,teu Sena,o mesmo Tamisa
tanto faz, tanto mar
salgado ou doce eu quero,
velejemos até onde o fascínio 
dócil de um oceano imenso
perpectue nossas aventuras marinhas 
em Bolama,Haiti ou na Cidade Velha
e em todos os portos por aí apinhados 
e ardentes de vida
Amesterdan,Antuérpia ou Lisboa,
revigorados de beleza

Malfadado

O leito não guarda seus sonhos.

Está ao seu lado.

“Ei, lindo. Bom dia!”

Responda.

Nada quer ser palavra.

Estagna a beleza.

 

Em que você quer ser reduzido?

Lembre-se.

Tic.

Sorri.

Tac.

Aponta o três.

Desmorona em si.

Não consegue acordar de verdade.

 

Sem título

*

Eu cresci e o mar já não é o que era. Só quando sorris eu posso ser a rainha da minha desgraça de ser feliz.

Preciso de um relógio que bata ao contrário. Talvez assim não sinta mais a falta dos momentos que vivi sem ti.

Conto os anos pelos dedos, o coração vai aguentando.

O começo de uma jornada mais longa que eu pode possuir-me. Já me esqueci do som da chuva a cair, só a tua respiração me entra pelos ouvidos.

Se ficar, não será pelo cansaço. Sei que as minhas asas dormem longe. O meu único desejo é olhar-te apenas.

Sem título

*

Não gosto quando saímos de casa juntos mas depois tu vais para um lado e eu para outro e beijamo-nos na rua. Não me leves a mal, sabes que gosto dos teus beijos e tremo toda só de pensar nos teus lábios, mas não gosto quando tenho de te beijar na rua.

As pessoas não têm de estar lá nem os cães e as chicletes no chão são feias. Rais parta a vida que é amor. Porquê que vivo num palácio contigo dentro e quando sais de ti resta só o mundo que inventaram? Porquê que não podemos ficar só nós os dois para sempre?

Um engano que morre…

Mergulhar noutro  corpo ,

respirar noutra atmosfera inversa

e voar com todas as aves migratórias

à flor do obscuro desejo, de querer ser

o que nunca fui.

 

 

A aurora desmorona-se de carência,

de outro amor impossível que há-de vir,

dentro a solidão cerca a luz absoluta,

já desponta, um engano que morre…

 

 

Somos condenados ao infinito,

neste chão onde a manhã se esvazia

e a aurora rompe-se.

 

 

Hiberno todas as noite,

e aprendo a secar tudo que escorre

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