A fuga
Autor: Pedro O Poeta Gomes on Saturday, 22 March 2014Quando a noite chega invadindo as cidades,
Quando a noite chega invadindo as cidades,
E zás!
Basta a nostalgia da saudade
e o passado volta!
Desprevenida!
E zás!
Torna-se presente...
um belo presente envenenado...
Foi para ti que desfolhei ventos,
que rompi o meu olhar,
que criei todas as palavras perfumadas,
que cuspi as cores douradas.
Escrevi-te,
e no avesso das palavras
inventei-te,
acariciei-te,
Amei-te sem saberes.
No contorno da tua página
desenhei o céu,
na liberdade das minhas palavras
voaste em pedaços de papel.
Para te conhecer
Esqueci-me da terra
embebida pelo mar,
sou a sede da ilha
e a fome da onda
que se agita ao luar.
Aconchega-me nas vésperas do amanhã,
depois, meu amor,
regressa à origem da fonte,
pois eu serei a última gota
que queima a sede.
Repara, amor
no labor das nuvens
que me sobrevoam
e como elas ocultam a ternura do Sol.
Escreve-me Mulher a tua essência,
uma palavra apenas,
uma carícia em cada pétala.
Há tanto tempo que és Mulher,
és terra coberta,
és mar que se agita,
és árvore de braços abertos,
és o fogo do Sol,
és dentro mim tudo que coabita.
Escreve-me Mulher! Descreve-me a tua ilha,
essa que o sonho domina,
escreve-me agora, enquanto Mulher,
enquanto a semente germina e
Abeiro-me de mim,
minha boca abre,
se quiseres,
podes beber a minha língua para aprofundar
o sal da minha sede.
Sou a mulher sedenta
soprando ternura,
transpirando desejo no deserto vazio
onde os lobos uivam de prazer ardente.
Minha pele grita, contra as falésias e
Na pré- aurora,
onde tenho-te em mim mais ardente,
Sou tua amante.