Prosa Poética

NINGUÉM LIGA PELO QUE SINTO

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Ninguém liga pelo que sinto, eu penso que sinto. Eu uso cinto é isso que sinto.

-  Eu conheço o Jacinto! ele sente em mim o que eu sinto, mas eu não sinto nele o que eu sinto em mim.

-  Se você sente comente, me deixa contente quando você sente.

- Então senta na cadeira, ou aceita a brincadeira, de ler tanta besteira.

- Senta, sente, sinta! já sentou? já sentiu?

Então fica com Deus! VIU?

 

Madalena Cordeiro

 

Sarar

A João Bosco da Silva

Há quem escreva para abrir feridas

as feridas que todos temos, que fazemos muitas vezes sem notar

Como se se olhassem ao espelho e contassem as nódoas negras e os arranhões ao fim de um dia de trabalho

Da nódoa negra e das feridas fazem poesia

que é sempre sentida mais bela quando dramática e pesada  de dor

Sangram para a fazer nascer

 

Eu escrevo para me sarar

Para limpar as feridas

Sépia

Meus pés caminham por ruas de Lisboa

onde meus olhos se perdem a olhar

outros momentos vividos neste lugar

Virados para o interior da minha memória

observam imagens que o hálito do meu coração 

quente e húmido embaciou beijando-as vezes sem conta

tornando-as cor de sépia

 

Não foi aqui que te conheci

Mas foi aqui que aprendi a amar-te

De mãos enlaçadas percorremos ruas e ruas deixando um rasto de carinho no ar

O nosso primeiro beijo foi selado aqui

num jardim que o meu espirito deseja visitar

AS MÃOS DE MINHA MÃE

AS MÃOS DE MINHA MÃE

Para que medir o tempo nas pessoas?

tu tens oitenta anos e por teu olhar e teu sorriso

eu sinto que tens dezesseis.

Dizem que eu herdei teus olhos, tão cheios de luz,

mas eu queria ter teu sorriso

porque é jovial, gosta e conquista.

 

Recordo que quando era jovem te via caminhar.

E que bonita és, mãe! Os homens seguiam teus olhos e buscavam teu sorriso.

Quando vejo tuas mãos, já com as marcas do tempo, quero adorá-las

Não sei por quê?

Não sei por quê?

Não sei por que eu gosto tanto de você, quando estamos juntos meu tempo para, um dia sem te ver é como se fosse uma eternidade, sempre quando estou triste sem ânimo eu olho para você, só de te ver meu humor muda, posso estar cansado com a lida e intempéries da vida, mas quando estou perto de ti tudo esvaísse, queria tanto que tu soubesses todo o bem que me fazes um olhar teu tem o poder de me hipnotizar...

Tributo à Lavoura Arcaica

Debaixo do sol que não reza, fui eu, o filho desgarrado, a ovelha sem promessa, que tentei pela última vez provar do arcaico úbere sem pressa. Já sei que sou eu que guardo a virulenta dose de modorra que o sangue grosso não poupou. Mas não foi por falta de empenho, amada irmã, que me afastei do ventre do lar; nem por ser arredio meu viço doméstico que os anos de lavoura não curaram. Obedeci ao pai todas as manhãs, de sol a sol e chuva a chuva; servi o vinho soberbo em cada copo que me toei; servi à mãe com obediência em cada pão que sovei.

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